Com o título “STF decidirá eleição de 2018”, eis artigo do jornalista Henrique Araújo, que pode ser conferido no O POVO desta sexta-feira. Pelo andar da carruagem lá no Supremo, o pleito vai acabar no velho Fla-Flu. Ou seja, tucanos versus petistas. Confira:
Com Lula e Michel Temer nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), e o “novo” definitivamente sepultado como discurso político, as eleições de 2018 tendem não apenas a ser decididas no plenário da Corte, mas a reeditar a velha polarização entre tucanos e petistas. Com uma diferença: sai o ex-presidente duas vezes eleito, entra o prefeito derrotado no primeiro turno em São Paulo em 2016, Fernando Haddad.
A preço de hoje, Lula é carta fora do baralho. Aos poucos, suas estratégias na seara jurídica vão se mostrando ineficazes. No TRF-4, no STJ e no STF, magistrados rejeitam pedidos de habeas corpus, impetrados pela defesa, ora a cargo de Cristiano Zanin Martins, ora de medalhões como Sepúlveda Pertence. Assim como o golpe, o discurso da “lawfare” (guerra jurídica) também vai sendo deixado de lado como artilharia político-eleitoral.
Resta, ainda, a última instância recursiva. Lá, porém, a pauta, sob controle da ministra Cármen Lúcia, não parece simpática à revisão da prisão em segunda instância a reboque do caso de Lula. Caso o faça, será no mínimo inoportuno. No máximo, casuísmo.
A menos de um mês para o fim da janela partidária, período no qual os políticos têm passe livre para cometer infidelidade sem punição, os numerosos candidatados à presidência que foram se acumulando desde o início do ano vão caindo um a um. Primeiro, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), virtual novidade abatida em pleno voo por canhões tucanos. Em seguida, Rodrigo Maia, cuja candidatura, lançada ontem, é balão de ensaio – o democrata mira mesmo é no governo do Rio. Antes dele, o caldeirão já tinha virado para Luciano Huck, que negou duas vezes que será postulante – negará uma terceira?
“Mortos-vivos” ocupando posições diferentes nas pesquisas de opinião para 2018 (um é líder do campeonato e o outro, lanterna), Lula e Temer estão enrolados em seus inquéritos – o petista na primeira instância e o presidente, no Supremo. Um no triplex e no sítio; o outro, no porto de Santos e na Odebrecht.
Poucas semanas atrás, o emedebista lançava a pedra fundamental de uma plataforma eleitoral: a intervenção militar no Rio, de onde pretendia conquistar o restante do País, fazendo avançar agora uma popular agenda de segurança pública em substituição à indigesta reforma da Previdência. Deu com os burros n’água. Os planos de reeleição do presidente com maior desaprovação desde José Sarney foram frustrados pela citação em novo pedido de investigação feito pela PGR e a quebra do sigilo bancário determinado pelo ministro Luís Roberto Barroso.
Sem Lula e Temer na parada e Jair Bolsonaro amargando queda nas sondagens depois que seu espólio (militarismo e conservadorismo) passou a ser disputado, o que sobra? Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Fernando Haddad. Noves fora as candidaturas de Manuela D’ávila (PCdoB), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (Psol), e a já previsível capacidade de Ciro tropeçar nas próprias pernas, o funil deve projetar o velho Fla-Flu nacional: petistas de um lado, tucanos do outro.
Tudo como há mais de duas décadas, quando, mal saído do processo de redemocratização, o Brasil revirava os quatro cantos do País à procura do novo. E, novamente, não encontrou.
*Henrique Araújo
chenriquearaujo@gmail.com
Editor do O POVO.