Em artigo no O POVO deste domingo (22), o psiquiatra Cleto Pontes comenta da decisão do STF pela permissão de ensino religioso confessional nas escolas públicas. Confira:
Com “voto de minerva” da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela permissão de ensino religioso confessional nas escolas públicas. Seis votos a cinco, o tribunal rejeitou a ADI 4439, que pedia que o ensino religioso fosse apenas uma apresentação geral das doutrinas e não admitisse professores que fossem representantes de nenhum credo – como um padre, um rabino, um pastor ou uma ialorixá (mãe de santo).
Ao relermos a história do processo civilizatório, a proposta pedagógica inicial era de três disciplinas com múltiplos olhares: 1-Teologia, 2-Dinheiro, 3-Império. O ensino público foi criado no Brasil no século XVI com a chegada dos primeiros jesuítas, ou seja, por cristãos. No século XIX, houve as primeiras escolas protestantes. Erasmo de Roterdã declinou o pedido do papa Leão X de ter que confrontar as teses de Lutero na reforma do cristianismo. Erasmo viu-se em conflito com ambas religiões e assim o mais culto católico da época optou por educar novos príncipes e princesas com o básico: como higienizar os dentes com titela de galinha ou como liberar flatulência em público educadamente, utilizando-se de um barulho bucal mimetizado sonoramente.
No Ceará, são mais de 110 mil crianças fora da sala de aula e, no País, 1 milhão e 600 mil, portanto, o básico levado a sério seria mais eficaz, do berçário ao final do ensino fundamental. Desde cedo, o aluno, além de saber o valor do dinheiro, entenderia também como ele surgiu e de que forma foi utilizado ao longo dos milênios. O brasileiro está falho em sua educação a partir do momento em que torna privado o que é público, sem princípios éticos, morais ou mesmo fé em princípios de Justiça e o agravante da falta de espírito crítico.
Se Deus criou o ser humano, a criatura criou as religiões e seria preciso ensinar de que maneira, com qual objetivo e o valor que a religião tem na existência humana. Por que o politeísmo se rendeu ao monoteísmo? Por que nos EUA, país laico, o presidente da república tem que fazer o seu juramento ao tomar posse com a mão sobre a bíblia? Por que o ser humano, ao invés de seguir os mandamentos, tende mais a transgredi-los? Não matarás: (Êxodo,2,3) é exemplar. O mundo nunca viveu sem conflitos. Se a mãe natureza gera tremor de terra, maremotos, vulcões em erupções e tantos assombros mais, o ser humano vem provocando danos bem maiores à terra e aos seus semelhantes.
No segundo grau, liceu para os franceses e para os norte-americanos high school, segundo J. Piaget, o adolescente já deveria estar com a cabeça feita, necessitando apenas de apoio afetivo familiar e de sua nação acolhedora. Assim amparado, ele iria criar alicerce para a sua profissão que, certamente, daria um bom retorno à sociedade. Utopicamente, se a Universidade fosse um espaço mais lúdico, o nosso processo civilizatório teria avanços mais salutares.
Fator genético não, a prática de corrupção de gestores públicos brasileiros e seus coniventes se deve à má formação educacional, cidadã e por que não, religiosa? Além de ter “ficha limpa”, que tal aplicar testes psicológicos aos candidatos e somente após avaliados possam se candidatar? Temos que pensar que tipo de sociedade queremos construir. O ensino religioso é o aprimoramento em determinada fé, no qual princípios como não roubar deve estar na prática cotidiana. Em Hebreus (13:17) está escrito: obedeçam aos líderes que cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Infelizmente, devemos ser vigilantes e atentos à prestação de contas de quem não merece ter nem a nossa submissão e muito menos ser considerado autoridade. Princípios é o que nos falta.