Com o título “Ceará: o duro golpe do mapa nacional da miséria”, eis artigo do ex-secretário do Turismo do Estado, Alan Aguiar. Na condição de quem também é da área econômica, ele faz críticas ao tempo perdido pelo Estado em matéria de investimentos e empreendimentos sem retorno até o momento. Confira:
A Fundação Getúlio Vargas, através do seu Centro de Políticas Sociais, acaba de divulgar suas conclusões sobre a distribuição da miséria entre os Estado e regiões do Brasil, e a notícia não poderia ser pior para o Ceará que, juntamente com Alagoas, Maranhão e Amazonas, ocupa as últimas posições do ranking nacional. Os números apresentados reprovam as políticas públicas até então implementadas e exigem uma completa e radical mudança de rumos.
Insistindo no surrado modelo desenvolvimentista adotado no século passado e lastreado majoritariamente em atração de indústrias, ficamos para trás no contexto nacional e só conseguimos ficar mais pobres ainda, comparativamente. Pasmem, o Ceará conseguiu ficar mais pobre que o Piauí. Ou seja, na chamada guerra fiscal entre os estados que se rasgam por indústrias, saímos baleados e ocupando o último quartil da pesquisa, a qual enquadra os Estados que detém percentual de pobres da população situados entre 20,1 a 27,6. Estados do Sudeste e Sul contabilizam, no máximo, 5% de pobres.
Esperando as promessas do Governo Federal petista, ficamos na expectativa dos projetos estruturantes que nos remeteria a fortes expansões da renda per capita e descuidamos da imperiosa necessidade de revisitarmos o caduco modelo de desenvolvimento econômico ainda vigente. Refinaria com seu polo petroquímico, montadoras com suas indústrias satélites, transposição do São Francisco com seu agronegócio, hotel 7 estrelas que colocaria o Ceará no mapa do mundo do turismo, etc. etc.
Nada vezes nada, mas apenas uma siderúrgica cuja implantação arrastou-se por mais de uma década e meia.
Sem ajustar seu planejamento e direcionar de forma eficiente o orçamento de investimentos o Ceará se notabilizou pela enorme capacidade de produzir mamutes e esqueletos que têm no Acaquário, no tatuzão, no aeroporto de Aracati, no terminal de passageiros do Porto de Mucuripe e no CFO seus mais repugnantes exemplos de desperdício de dinheiro público.
Estamos em um Estado cujo maior feito econômico relevante foi uma concessão feita, pelo adversário Governo Federal, do Aeroporto Pinto Martins para uma gestora aeroportuária Alemã. Estamos em um Estado cujo segundo maior feito relevante é um memorando/protocolo assinado com gestores portuários da Holanda na tentativa de privatizar também o Porto do Pecém que, caso contrário, caminha a passos largos para a perda de competitividade. Estamos em um Estado que sequer tem água para seu agronegócio.
Estamos em um Estado onde o ambiente de investimento é operacionalmente e juridicamente caótico.
Estamos em um Estado que poderia ser a Flórida Brasileira e com pleno emprego. Mas o modelo mental e a dinâmica governante preferem o palanque, o escândalo e a retórica quando deviam estar mergulhados na perseguição disciplinada de um novo modelo de desenvolvimento do Estado do Ceará, sob pena de não termos mais com quem ser comparados no Brasil e virarmos definitivamente o Estado Democrático da Violência, pois como bem canta nosso Fagner…. “Seu sonho é sua vida/e a vida é trabalho/e sem o seu trabalho/um homem não tem honra/ e sem a sua honra/se morre, se mata/não dá pra ser feliz…….”.
*Allan Aguiar,
Ex-secretário do Turismo do Ceará.