Da Coluna Fábio Campos, no O POVO deste domingo (27):
Caso a participação de Michel Temer no Geddelgate tenha ficado restrita à declarada sugestão para que o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, aceitasse a mediação da Advocacia Geral da União (AGU) para resolver o imbróglio, já ficaria clara a inadequada intervenção do presidente da República.
A AGU existe para, entre outras atribuições até mais importantes, dirimir conflitos entre órgãos da administração federal. Porém, não era esse o caso em questão. O conflito Geddel x Calero não era de cunho administrativo, mas sim uma óbvia pressão de um ministro sobre outro para resolver questões particulares que em nada se relacionavam com as funções públicas. Ponto.
Foi o suficiente para que a oposição se mobilizasse por um pedido de impeachment. Primeiro, é preciso caracterizar que houve crime de responsabilidade de Temer. Em segundo lugar, o pedido precisa ser protocolado na Câmara dos Deputados. Depois, passará pelo crivo do presidente da Casa, que engavetará ou dará sequência ao pedido. E por aí vai.
A não ser que surjam fatos novos e com grande grau de relevância, é algo improvável de ocorrer. Dito isso, pode-se afirmar sem erro: Temer sai mais fraco do episódio que poderia ter sido facilmente resolvido logo em seu nascedouro. Porém, se a coisa tivesse se dado assim, não seria Temer. O presidente é o que é e com as circunstâncias que o cercam.
Itamar Franco é o único presidente da República que conheci que não se rendeu ao balcão político do Congresso. Lembro-me quando Henrique Hargreaves, ministro de sua cota pessoal, foi acusado pelos opositores de Itamar de ter participado, de alguma forma, dos desvios que estavam sendo investigados na CPI do Orçamento quando exercia funções como servidor do Senado. Acusações vagas.
Hargreaves era ministro da Casa Civil. E o que fez diante das acusações que partiram principalmente da esquerda? Conversou com Itamar e pediu exoneração do cargo. Objetivo: preservar o presidente e não interferir nas investigações. Como a acusação era balela, o ministro voltou para o cargo. Voltou mais forte, é claro. Mas, Itamar, tão execrado inclusive por seus aliados tucanos, era um político de outra estirpe.
Itamar é de uma tradição política não muito propagada no Brasil que parece ter sido extinta com sua morte, em julho de 2011.
Temer é presidente de um governo frágil e sem apoio popular. Assim também era o governo Itamar. Seu poder constitucional não emanou do desejo do povo nas urnas. Assim foi também com Itamar. Pois é. O que os difere além das trajetórias pessoais e da personalidade?
Simples: Itamar assumiu o poder sem carregar nas costas um partido repleto de vícios e sócio das bandalheiras do governo que caiu. Itamar também não participou em nada das articulações políticas para formar a maioria pelo impeachment. Sem dúvidas, sua atuação discreta o favoreceu para o futuro exercício do mandato presidencial.
Temer é o que é. Continuará sendo. Não vai mudar. Seus ministros caem pouco tempo depois de acusados de corrupção não por firmeza de propósitos do gestor e da gestão, mas sim porque se trata de um governo politicamente.
Fosse forte, não cairiam.