“Se a gente não acreditar na gente, tu acha que vai ter alguém que vai acreditar na gente?” É como retruca Aloísio Li à interpelação de seu amigo Piolho, que tentava trazer o padeiro daquela Quixadá dos anos 1980 à razão após lhe ouvir contar seus sonhos de alçar os pódios mais altos das artes marciais chinesas.
O “atrevimento” do protagonista do filme O Shaolin do Sertão personifica-se nos próprios idealizadores dessa obra, que acreditaram que poderiam inverter um consolidado vetor de imposição cultural. Hoje, mais uma vez, o seu sucesso orgulha o Ceará, entusiasmando as salas de cinema do País inteiro com as vibrantes subjetividades do nosso povo.
Não há emoção maior que a de poder desfrutar das belezas do nosso sertão na telona; ouvir o mais alto nível do nosso “cearensês”; encantar-se com um elenco de excelência, tendo expressiva participação de atores da nossa gente; tudo ao som da voz de Raimundo Fagner, que, onde quer que a escutemos, sempre nos traz de volta para casa.
O Ceará e o Nordeste agradecem a “teimosia” dos “arretados” Halder Gomes, Edmilson Filho e de seus “compadres”, por criar e difundir uma arte nossa. Assim como Aloísio Li, o nosso Quixote do Quixadá, eles nos relembram que não há moinhos no sertão; que, apesar das dificuldades impostas pela força que tudo arrasta para regiões de finanças mais fluídas, o povo cearense tem a coragem e o talento para lutar.
Todo cearense deveria assistir ao filme “O Shaolin do Sertão”, uma obra que nos convida a sonhar…
*Emmanuel Furtado Filho
e.furtadofilho@gmail.com
Advogado, professor e doutorando em Direito na Universidade de Paris.