Com o título “Qual será a Fortaleza do futuro?”, eis artigo do ex-vice-governador e ex-secretário de Infraestrutura e do Planejamento e Gestão do Ceará, Maia Júnior. Ele defende a tese de que o futuro prefeito pense a cidade voltada para serviços. Confira:
O tempo é fator limitante nessa campanha eleitoral. Contudo, sozinho, não explica o vazio de projetos para Fortaleza, que estão se resumindo a bordões como: “vamos lutar pela educação; investir mais em saúde, olhar para segurança…”
Quase nada se diz sobre estratégias e programas que precisam ser implantados para se alcançar os objetivos desejados. E nesse ambiente de muita desinformação e poucas certezas é que o eleitor será obrigado a encarar novamente as urnas.
Tão grave quanto os problemas do cotidiano de uma cidade é a falta de perspectiva para o futuro. E para pensar seu futuro, Fortaleza deveria refletir melhor sobre três questões. A primeira diz respeito ao perfil do gestor que se pretende. Ser honesto e simpático talvez já não baste a quem almeje conduzir a cidade a outro patamar. O prefeito precisa pensar grande e, principalmente, ter capacidade de mobilizar os cidadãos em torno de um projeto avançado.
A segunda questão diz respeito à descoberta da vocação da cidade, para, em seguida, tentar gerar riquezas. O termo “riqueza” aqui compreendido como algo que transcende a noção financeira e que se desdobra em ativos que tornam as cidades mais atraentes.
Há cidades que se destacam não necessariamente pela sua renda, mas pela qualidade de vida. O ambiente cultural ou a qualidade da educação, por exemplo, não estão diretamente associados a grandes investimentos, porém são fatores muito valorizados por empresas inovadoras, jovens profissionais… Tanto é verdade que cidades como Colômbia e México, de países que não são ricos, figuram numa lista recente entre as mais “atraentes” do mundo.
Convém lembrar também casos de cidades que passaram por períodos de estagnação e hoje são referências internacionais, a exemplo de Barcelona – que entre 1960 e 1990 viveu um estágio de obsolescência mas com um planejamento que juntou o poder público, universidades e empresas tornou-se ícone de bem-estar e de desenvolvimento empresarial e inovação.
Fortaleza poderia tentar algo semelhante. A cidade tem uma vocação natural para a o setor de serviços e poderia aproveitar melhor as oportunidades nesse campo. Além do turismo e do comércio, a cidade possui um polo de medicina considerável em Porangabuçu que poderia ser integrado e potencializado.
É possível, sim! Romper o ciclo de subdesenvolvimento que persiste em grande parte de Fortaleza. Porém sem ousadia para planejar o futuro podemos continuar vivendo a impressão de que somos tão somente um ajuntamento aleatório de milhões de pessoas sem um propósito maior.
*Maia Júnior
maiajunior@tmreng.com.br
Engenheiro civil, ex-vice-governador do Ceará e ex-secretário estadual da Infraestrutura e do Planejamento e Gestão.