Com o título “”Quem realmente se importa?”, eis artigo do promotor de Justiça Walter Filho. Num dos trechos ele afirma: “Fortaleza é uma cidade sitiada por bandidos, onde ser assaltado ou mesmo morto já não desperta em certas autoridades de segurança qualquer repulsa.” Confira:
A decapitação de inimigos, os massacres com uso de armas de fogo, bombas e recentemente o uso de um caminhão para esmagar o maior número possível de vítimas (a matança de Nice) são imagens que angustiam, mesmo que momentaneamente.
Diz o psiquiatra e escritor inglês Anthony Daniels que uma mera discussão familiar pode causar mais angústia do que uma guerra distante, por mais sangrenta que seja. Embora saiba ele que a guerra pesa na balança um trilhão de vezes mais.
Lembro que no ano de 1994, durante o conflito tribal entre as etnias locais, morreram quase um milhão de ruandeses a golpes de facão, e grande parte do mundo ignorou o morticínio na antiga colônia belga. Atiradores dispararam impiedosamente contra pessoas indefesas na Alemanha. Onde será amanhã?
Aqui no Brasil, são assassinadas quase 60 mil pessoas por ano e o Estado ignora.
A maioria das pessoas não quer comentar o assunto; alguns cretinos dizem que estas coisas somente acontecem nas periferias dos grandes centros – como se lá não vivessem seres humanos que no dia a dia movimentam a cidade, são eles: empregados do comércio, estudantes pobres, ambulantes e tanta gente de bem que luta por uma vida melhor.
No Rio de Janeiro, o crime organizado faz o que bem entende desde o início dos anos 1980, destruindo patrimônio público, atirando nas pessoas e na polícia, desafiando governos, traficando drogas e delimitando territórios – o terror é aqui também.
Fortaleza é uma cidade sitiada por bandidos, onde ser assaltado ou mesmo morto já não desperta em certas autoridades de segurança qualquer repulsa. Como aceitar que presos comandem a violência de dentro das penitenciárias?
Sair ileso desta barbárie é uma questão de sorte; pois, mesmo tomando todos os cuidados e prudência possíveis, o criminoso estará nas sombras e quase sempre leva vantagem. Nesta loteria da morte nos restou a prisão voluntária – atrás dos muros de nossas casas que não impedem a covarde ação dos facínoras. Estamos perdidos…
Walter Filho
walterfilhop@gmail.com
Promotor de Justiça.