Com o título “Independência ou Morte!”, eis artigo do advogado Reno Ximenes. Ele analisa o cenário político atual e faz algumas considerações contra o que define como golpe e interesses subalternos. Confira:
Na década de 1960, gigantes grupos multinacionais se reuniram preocupados com os efeitos da Revolução Cubana na América Latina em relação a eventuais prejuízos que poderiam causar sobre suas empresas instaladas neste continente. Queriam ainda evitar uma unidade econômica continental entre os chefes de Estados latinos, no que desencadearam o famigerado plano de derrubada de governos, através do patrocínio de sequenciais Golpes de Estado, pela força bruta e violência militar.
Em 1989, em Washington, nos EUA, técnicos do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados – FMI, Banco Mundial e BID – reunirem-se com o intuito de planejar os destinos econômicos, capacidade de endividamento e controle político dos países latino-americanos, sob a convocação do Institute for International Economics, sob o título “Latin American Adjustment: How Much Has Happened”. Tal evento passou a ser conhecido pelo mundo subdesenvolvido por “Consenso de Washington” ou “Pacto de Washington”.
Em ambos os movimentos ideológicos de oxigenação do capitalismo americano, foram impostas condutas compulsórias às nações subdesenvolvidas, sob pena de sanções econômicas mais severas. Além das ordens para ceifar os programas sociais das camadas populares, impôs a obrigatoriedade da aprovação e a adoção, no ordenamento jurídico brasileiro, das Leis 4.320/64 (Lei das Finanças Públicas) e a Lei 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Travestidas de condutas moralizadoras da gestão e equilíbrio das finanças públicas, os EUA sempre planejaram, tão somente, a segurança financeira da expansão de suas empresas e a proliferarão do consumo com liquidez e segurança da demanda, mesmo que isso fosse às custas, necessariamente, da retirada de garantias sociais dos próprios latino-americanos.
A história se repete. Não pelo argumento do metafísico destino, mas pelo ritmo do dialético poder da força bruta, desta vez, aparentemente diplomática.
Sabe-se, do subterfúgio de se utilizar das teorias do caos do inconsciente, para sacramentar versões em substituição aos fatos. Impor o moralismo é a palavra de ordem que seduz, implacavelmente, os tolos. Esses são movidos pela sazonalidade. Acreditam, sempre, que qualquer turbulência institucional possa ser um movimento de inclusão social que os favoreçam. No caso concreto, mesmo recorrendo a ingratidão de tudo que foi feito em favor da inclusão social, nas últimas décadas.
O brasileiro deve ter a ciência de que a crise de corrupção pandêmica não possui conexão com o oportunismo do golpe de Estado, em exercício no Brasil. É apenas o uso da vulnerabilidade institucional, em benefício do tiro da misericórdia. Não se constrói moralidade com retórica massificada. Há necessidade de uma reforma política, tributária, fiscal e federativa que o Congresso Nacional se nega a fazer.
A Dilma é a umas das poucas personagens honestas e decentes nesse turbilhão de bandalheiras. Isso precisa ser refletido! Os custos para o Estado brasileiro em seu impeachment serão maiores que a sua permanência, mesmo com um governo fraco, por apenas dois anos. O processo de impeachment é um processo de cooptação política, que acarreta compromissos inconfessáveis com o dinheiro público.
O Brasil não pode permitir que as suas riquezas sejam entregues de mão beijada, soprando o nó da peia, em nome de uma falsa ordem jurídica e institucional, que não nos interessa.
É na política que se encontra a solução da má política. É agora quando o Brasil começa a depurar as lideranças decentes em suas instituições, quando assiste a escória da política integrar o coro dos ditos moralistas.
Não pode se deixar de consignar o digno papel de vários partidos e lideranças acadêmicas, que, mesmo antagônicos e críticos aos alopramentos, corrupções, deslumbramentos, enriquecimento dos banqueiros, políticas de inclusão social fisiológica e viciante, além de muita bandidagem feita por muitos petistas, ainda possuem a altivez republicana de defender o final do mandato da Dilma, por uma questão de lealdade com o futuro do Brasil. Falo do PSOL, PC do B, PDT enquanto partidos; registro, outrossim, Ciro Gomes, Chico Buarque, Marco Aurélio Mello, Fábio Konder Comparato, Requião, Pedro Simon, Chico Alencar e Jandira Fegalli, além de outras louváveis e corajosas lideranças.
Aguentem firme! O Brasil é nosso! Não vai ter golpe, vai ter luta! Ruim com ela, pior sem ela. O STF não irá permitir o abuso do poder político. Daqui a dois anos teremos uma grande oportunidade de julgar os políticos através do voto universal, direto, livre e democrático.
*Reno Ximenes
Advogado.