Da Coluna Fábio Campos, no O POVO deste domingo (20):
Os contornos da crise política de 2015-16 foram delineados pelas manifestações de junho de 2013. A sucessão de acontecimentos é tão avassaladora que aquelas jornadas com multidões nas ruas já são pouco lembradas. Foi praticamente um mês inteiro de mobilização. Sem líderes, sem partidos, sem convicções organizadas. Não havia uma pauta só, mas o fundamento era a aposta de que a corrupção era o mal a ser combatido.
As grandes manifestações de 2013 refluíram no mesmo silêncio e na mesma velocidade com que começaram. De uma hora para outra. Isso se deu no contexto em que os manifestantes ordeiros e pacíficos, a esmagadora maioria, não aceitaram que suas atitudes de protesto fossem identificadas com os grupos mascarados que optaram pelo quebra-quebra, violência e confrontos.
A insatisfação se recolheu, mas ficou latente. Os mesmos problemas que levaram os manifestantes para as ruas de 2013 permaneceram e até se aprofundaram. No ínterim entre aquele e o atual momento, uma eleição presidencial. O grande vencedor naquela disputa foi o “não” a um e a outro. Milhões de votos se consolidaram na base da negação a um ou ao outro concorrente e não por convencimento pela proposta oferecida por eles.
Na sequência, se estabeleceu uma das mais graves crises econômicas de nossa História. Uma recessão em 2015 de quase 4% na sequência de um 2014 praticamente sem crescimento. No ano seguinte, o aprofundamento da queda da atividade econômica. Ou seja, uma recessão em cima de outra recessão. Não é pouco. Com ela, um processo inflacionário que sempre faz dos mais pobres as maiores vítimas.
Junte-se a esse fator, a Operação Lava Jato, iniciada no segundo semestre de 2014, que concedeu materialidade ao espírito das ruas de 2013. Em poucos meses, as investigações conseguiram expor as entranhas da promiscuidade entre público e privado, mostrando, de forma didática, como o dinheiro público financiava a política e as riquezas, deixando de chegar a quem mais importa.
Notem que o desenvolvimento dessa Operação só foi possível por causa de uma lei aprovada no Congresso Nacional e sancionada pela presidente da República na esteira das respostas institucionais aos anseios das manifestações de 2013. Sim, a lei da chamada “delação premiada” foi fruto dos protestos daquele ano. Sem ela, jamais a Lava Jato chegaria aonde chegou.
Agora, essa conjunção de fatores concede tons finais ao quadro que começou a ser desenhado em 2013. Como a política fracassou, milhões voltam às ruas. É provável que grande parte dos manifestantes daquele ano componha agora o grupo de milhões que se mostram profundamente impacientes. Com uma grande e decisiva diferença: seus protestos deixaram de ser difusos e passaram a ter alvos muito claros.
O quadro não terminou, mas o processo político tende a avançar com velocidade. Não convém à análise política fazer avaliações que se pretendam definitivas. Hoje, em nossa política, nada é definitivo. A crise é gravíssima. Não há soluções fáceis. O que quer que venha a seguir exigirá de todos, inclusive dos cidadãos, imensos esforços.