Em artigo no O POVO deste domingo (22), a jornalista e colunista do O POVO, Lêda Maria, conta um pouco mais de Dona Mazé, mãe de dois governadores do Ceará, que faleceu na última segunda-feira (16). Confira:
Ela afirmava gostar muito de Carnaval, mas sentia falta das marchinhas e dos desfiles de carros com gente animada. “Antigamente era mais alegre, dançante e as letras das músicas muito bonitas”. Quem afirmava isso era mulher fascinante, que segunda-feira, dia 16, na proximidade de um pôr de sol partiu sem trio elétrico, mas ouvindo Bandeira Branca, para ocupar seu lugar no paraíso. Falamos de dona Maria José Ferreira Gomes, mãe querida de Ciro, Cid, Ivo, Lia e Lúcio. Vínhamos acompanhando sua saúde fragilizada, comprometida a partir do 13 de janeiro (era devota de Nossa Sra. de Fátima) quando teve parada cardíaca.
Nas idas e vindas ao hospital, manifestava desejo de se recuperar, para ver “os meninos”, assim se referia aos filhos; aos netos (principalmente Pedro, o mais novo de Cid e Maria Célia) e os três bisnetos. Tinha grande paixão: a música. Era cantora lírica com muitas apresentações. Também sabia cantar e bem suas preferidas da MPB. Foi a primeira a ouvir a colunista sobre o Grande Concerto de Natal- domingo de luz na Catedral, e logo aprovou, pedindo ao filho Cid, governador, que apadrinhasse, pois o povo precisava cantar. Sempre que estava em Fortaleza, comparecia, se dispondo, certa vez, a integrar o coral de 120 vozes. Hora de seu sepultamento, todos puderam ouvi-la cantar Ave-Maria de Gonnot, através de gravação feita pelo filho Lúcio.
Mãe de dois governadores, nunca foi ausente em seus planos, discussões e decisões, atestando envolvimento na política, desde que chegara a Sobral, em 1962, após casar em SP com o advogado e professor José Euclides Ferreira Gomes Jr., integrante de importante clã de políticos. Dessa vivência passou a preparar os filhos para estudar muito, incentivando-os no ingresso na política, “Tenho alegria em vê-los na política de forma íntegra, dignificando mais o nome do pai e seguindo sua máxima que era ‘a melhor política é trabalhar pelo povo com simplicidade, eficiência e probidade’”. Professora por amor e profissão, desenvolveu trabalho em colégios e escolas, e foi secretária de Educação de Sobral e delegada regional de ensino, manifestando crença na importância de todos exercerem pela educação a vida em plenitude.
Mantinha trabalho social permanente, e orgulhava-se de ter trazido para Sobral o Fundo Cristão para as Crianças, organização formada por grupos para apoiar crianças e adolescentes em situação de pobreza e vulnerabilidade social, além de entregar-se de corpo e alma ao Projeto Trevo de 4 Folhas, voltado para assistir aos necessitados. Era mulher forte, mas serena. Corajosa, não via problemas sem solução. Sabia amar, saciar a sede na fonte familiar e conjugar o verbo da benquerença. Charmosa, revelava simplicidade e leveza. Exercitava bem seu testemunho de mãe admirável e do bom conselho, elegendo para os filhos a valorização da família como meta e riqueza. Tinha o azul como cor e os bons livros sempre ocupavam suas horas, não aderindo a leitura digital. “Prefiro o cheiro e a textura do papel, assim como segurar com minhas mãos o livro escolhido”, revelava.
Recebeu muitos títulos, mas emocionou-se ao ser homenageada no Dia Internacional da Mulher, em 2014, pela Associação de Líderes e Lojistas Femininas, Alfe, presidida por Fátima Duarte. Tecendo e retecendo entre todos a alegria de viver, dona Mazé agora grava em nós a força da esperança, enquanto alcança a alvorada divina pela sua produção de bondade, empenhando-se naquela busca de ser feliz e fazer o outro feliz. Saudades!