Com o título “Cufa – da favela para o mundo”, eis artigo do presidente da Central Única de Favelas, Preto Zezé. Neste texto, ele diz que “surgiu uma estrutura capaz de trazer à luz um Brasil invisível contrapondo ao Brasil do asfalto”. Confira:
Há 20 anos, Celso Athayde iniciava, no Rio de Janeiro, a trajetória da Central Única das Favelas (Cufa). Na época, eu ainda lavava carros nas ruas de Fortaleza – meu primeiro passo no ativismo social -, quando deparei com ele. Naquele momento, a minha prioridade era levantar uns trocados que ajudassem na renda familiar.
Numa retrospectiva, vejo que a minha mudança de perspectiva cotidiana teve eco semelhante na realidade do Pequeno do Barroso, Davi do Pantanal, Del do Lagamar, Ernando do Conjunto Ceará, Juliana do Bom Jardim e Liduína dos Trilhos, em Fortaleza; Nega Gizza e MV Bill, no Rio de Janeiro; Marcelinho, no Espírito Santo e Francislei, em Minas Gerais, além de outros representantes anônimos das demais favelas do País.
Me orgulho em afirmar que a Cufa nos abriu um leque de opções para a compreensão gradativa do ambiente que nos envolve, a ponto de distinguir um lúcido guia para a nossa revolta e indignação contra a discriminação e o preconceito. Introduzimos uma diversidade de ações desde cultura, tecnologia, literatura e negócios sociais, por meio da Favela Holding.
A partir de um novo viés de mundo, conseguimos transformar uma realidade, outrora negativa, em uma agenda favorável – tendo como pano de fundo os territórios de nossa origem. Aliado a isso, surgiu uma estrutura capaz de trazer à luz um Brasil invisível contrapondo ao Brasil do asfalto.
Passamos a utilizar uma tecnologia social flutuante sobre as fronteiras globais, que nos habilita a vislumbrar um passo importante para a expansão integral das ações a serem tomadas. Com isso, temos uma favela melhorada, informada, incluída, exigente, tecnológica, mais jovem, mais mulher e, principalmente, mais empreendedora. Atuamos nacionalmente nas 26 capitais e Distrito Federal, e em mais de 300 municípios em 17 países.
Cientes de que os problemas globais podem ter soluções comuns, na sexta-feira passada, 18, durante a Semana Global Cufa, iniciamos na sede das Nações Unidas, em Nova York, um processo de construção de uma plataforma de indicadores e objetivos, chancelada na casa pelos 192 chefes de estado do mundo.
Desta forma, uma nova governança global surgirá, concedendo poder às favelas do mundo, trazendo desde o seu embrião soluções para as suas demandas políticas, com empresas e governos.
* PretoZezé
pretozezefortaleza@gmail.com
Presidente da Central Única das Favelas (Cufa).