Com o título “Moisés tupiniquim vaga pelo deserto das ideologias em busca da Canaã partidária”, eis artigo do jornalista, radialista e professor Francisco Bezerra. Ele faz uma gostosa comparação de Ciro Gomes ao líder bíblico Moisés. Confira:
“Deus sempre tem um escolhido para livrar seu povo do mal.” Frase do vulgo sobre a heroica missão de Moisés.
É o grande libertador dos hebreus, tido por eles como seu principal legislador e mais importante líder religioso. No deserto daqui, de homens e ideias, seus sequazes o seguem em interminável busca por uma sigla que lhes garanta abrigo legal, exigência da legislação partidária brasileira.
O primeiro foi Moisés, libertador do povo israelita da escravidão no antigo Egito, tendo guiado seu povo através de um êxodo pelo deserto durante quarenta anos. Caminhada que se iniciou através da famosa passagem em que Moisés abre o Mar Vermelho, possibilitando a travessia segura dos filhos de Abraão.
O segundo é Ciro Gomes, profeta maior de Sobral gerado no ventre da ditadura, libertador do seu povo do julgo dos políticos hereges a vagar pelos áridos caminhos da política local e nacional. Buscando a terra prometida em êxodo interminável depois de passagens por territórios do PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e parada emergencial no insípido Pros, purgatório em que sua alma em estado de graça se prepara para o Reino dos Céus.
Moisés, segundo o Livro do Êxodo, foi adotado pela filha do faraó, que o encontrou enquanto se banhava no rio Nilo e o educou na corte como o príncipe do Egito. Aos quarenta anos (1552 a.C.), após ter matado um feitor egípcio levado pela “justa” cólera, é obrigado a partir para exílio, a fim de escapar à pena de morte. Muitos anos depois Moisés retorna ao Egito e agindo com os poderes de Deus faz abater—se sobre o povo egípcio pragas que amolecem o coração do faraó que finalmente liberta o povo hebreu. Ainda segundo a Bíblia, Moisés recebeu no alto do Monte Sinai as Tábuas da Lei de Deus, contendo os Dez Mandamentos.
Ciro foi adotado por Tasso Jereissati, uma espécie de faraó dos tempos modernos pela riqueza ostentada, que o fez prefeito de Fortaleza, governador, ministro do governo Itamar Franco. Ciro, como Moisés, afastou-se do palácio governamental e trilhou caminho independente do seu progenitor político. Conforme epifania ocorrida às margens do rio Acaraú, o filho do seu Euclides recebeu a missão de construir as novíssimas tábuas onde estarão inscritos em letras garrafais que na política o correto é não roubar e nem deixar roubar. Este o principal mandamento do reformador da política cearense e um visionário que já anuncia nova candidatura presidencial em 2018, talvez com o mesmo intuito de Moisés de conduzir o povo escolhido no rumo de uma nova Canaã.
A veste partidária que usará o profeta é o grande deserto a ser vencido no cumprimento de missão celestial. Ciro e seus seguidores se debatem mais uma vez sobre a terrível escolha do novo abrigo partidário. O Pros tornou-se uma cruz demasiado pesada para ser carregada em travessia das mais árduas no reino de fariseus e hereges em que a eleição são provações colocadas no caminho do líder messiânico.
Ciro certamente seguirá sua missão de levar o povo de Deus até a terra prometida e muita coisa especial ainda deverá acontecer em sua história, como a necessidade de fazer de novo o discípulo Roberto Cláudio prefeito de Fortaleza, a Meca desejada em 2016, até que a política o faça titular do palácio do Planalto em 2018. A túnica partidária é só um detalhe nos desígnios do escolhido.
* Francisco Bezerra,
Jornalista, professor e radialista.