Com o título “Minhas Impressões sobre o 15 de março de 15”, eis artigo da professora de Filosofia da Universidade de Fortaleza, Sandra Helena de Souza.
1. Do ponto de vista estrito das ruas, considerando que há três dias houve manifestações críticas, mas bem mais alinhadas ao governo, bom teste democrático. O temor de grandes distúrbios, ou ações diretas de confrontos não se confirmou, e até dois ministros do governo (o que não concordei, mas não sou a presidenta) fizeram pronunciamento e deram rápida coletiva de imprensa. Chupa mundo que pensa que somos bagunça.
2. Não posso dizer que nada me surpreendeu, mas não fui pega de surpresa inteiramente. Sabia que seria um grande movimento e até apostei com amigos de esquerda que desdenharam da capacidade dos organizadores de mobilizar a população depois do ataque incessante dos veículos mais poderosos da mídia tradicional. Não é bom dizer isso, mas ganhei algumas apostas, numa situação de tensão. Só não digo o que para não causar inveja, né Martônio Mont’alverne?
3. Para mim é absolutamente patética a discussão sobre se são 200 mil ou um milhão ( e olha que muita gente boa tá nessa até agora, às voltas com google maps e ainda se apoiando em Datafolha, affe!). Ou se são coxinhas golpistas ou ressentidos. Há um fato incontestável: estamos em confronto aberto na sociedade brasileira. ‘Lulinha, paz e amor’ morreu. Esse slogan era terrível mesmo, mas cumpriu seu tempo histórico. Ainda bem. E ontem os opositores sambaram na pista e mostraram que não estão pra brincadeira. Chega de chorume ( inda bem que nunca caí nisso ). É hora de pensar à frente.
4. A grande imprensa tradicional fez o dever de casa correto. Imprensou o governo e enevoou o #HBSCgate. Mas estou cansada de reclamar da mídia, já que o governo não a enfrenta. Agora é hora de ver o que o governo vai fazer. A julgar pelos dois ministros ontem, na coletiva, parece que desse mato não sai cachorro. Que falta o Dirceu faz.
5. Procuro ver em que as bandeiras dos milhares de brasileiros que ontem foram às ruas podem compactuar com as bandeiras históricas de lutas emancipacionistas e civilizatórias, sobretudo as dos direitos humanos e justiça social, da sociedade brasileira. Juro que faço isso com o coração aberto, porque sei que vamos ter um tempo de combates ferrenhos pela frente. Alguém me ajude nesse mister. Até já fiz um post pedindo fotos de cartazes bacanas das manifestações de hoje. Até agora nadinha.
6. A luta é de classes, sim. A luta ainda é sobre que Brasil deixaremos para as próximas gerações. Não adianta falar que hoje foram famílias às ruas. Famílias de ruas também lutam e morrem todo dia nas periferias sem cobertura ostensiva das tvs e com a cumplicidade das famílias que hoje foram protestar.. A crise econômica (que para mim, desculpem a ignorância de quem já viveu inflação de 80% ao mês, desemprego galopante e desmantelo total do país) ainda não é nem de longe terminal e mais afeta os brasileiros vulneráveis, nem de longe os paneleiros. E sei onde estou e de que lado estou. E não me importa que mesmo esses brasileiros espoliados estejam do outro lado. Estou acostumada a lutar pelo que acredito porque estou convicta de que estou do lado certo. É isso política.
7. Precisamos tentar nos entender. Então vamos conversar para saber, os de 13 e os de 15, em nossos espaços de convivência e trabalho, em que podemos nos compactuar, procurar forjar consensos. Esse é um bom exercício democrático.
8. Quantos aos fascistas renitentes, bom, pra cima deles. Com a lei, galera.
9. A luta continua. Nenhum passo atrás. Retrocesso nunca. Sim, não passarão os que querem o passado.
10. Dilma Rousseff nós que em ti votamos, por ti aguardamos. Mas não sentados. Nem nós, nem eles fofa. Não adianta não querer brigar, mulher. Republicanismo tem limites nesse octógono.
Desce pro play! Tu já mostrou que sabe lutar.
* Sandra Helena de Souza,
Professora de Filosofia da Unifor.