Em artigo enviado ao Blog, o professor da área de Ciência Política do Departamento de Ciências Sociais da UFC, Uribam Xavier, diz que a gestão de Camilo é o início de um processo no qual os Ferreiras Gomes vão se desbotando na vida política. Confira:
Definitivamente chegamos ao fim do ciclo dos Gomes ao poder. Isso não significa que eles vão desaparecer da cena política ou vão deixar de ter mandatos, significa quer perderam a hegemonia na condução da política no Ceará.
O governo de Camilo Santana, caracterizado por uma gestão híbrida entre PT e Cid Gomes, é o marco transitório. O novo governo é a continuação do hibridismo ao avesso, pois antes a gestão era Cid Gomes e PT, mas agora se configura toda uma situação para fazer do PT o bloco hegemônico com capacidade de conduzir o poder, pelo menos nos próximos oito anos.
A gestão de Camilo é o início de um processo no qual os Ferreiras Gomes vão se desbotando na vida política. Ciro Gomes virou um personagem que ninguém quer por perto; não demonstra maturidade emocional para lidar com divergências e nem com contrariedades; além disso, o avançar da idade parece que não foi suficiente para superação do comportamento de arrogância. Já Ivo Gomes, considerado o menos talentoso e público do trio, sempre foi apagado, quando ganhou visibilidade foi por expressar atitudes arrogantes, sempre viveu à sombra dos irmãos. Seu futuro mais promissor parece que é usar a secretária da cidade para se eleger deputado ou prefeito de Sobral. Contudo, em relação a Sobral, cabe uma pergunta: será que os que estão hoje no poder vão querer soltar o osso?
Cid Gomes, agora ministro da educação, ainda pode disputar, com grandes possibilidades, o mandato para deputado federal ou para o senado. Minha aposta é que ele não chega até o final da gestão da Dilma como ministro da educação, e, ao sair do ministério, se não for bem sucedido na articulação do novo partido a serviço do Planalto para enfraquecer o PMDB, Dilma sentirá que já pagou os favores recebidos. Ele não é uma liderança nacional, não demonstra ter um pensamento sobre o Brasil, como teve algum tempo Ciro Gomes, quando repetia as ideias de Mangabeira Unger. Fora do poder, no presidencialismo de coalizão, estará fadado ao escanteio ou a ser um líder paroquial.
A velocidade com que os Gomes vão se desbotando vai depender das pretensões de Camilo Santana e do PT. Imagino que o novo governador queira disputar a reeleição e o PT queira ampliar seus aliados. Com o controle da máquina administrativa na mão, podem ampliar o número de prefeitos, cooptar novos deputados e fortalecer a estrutura do partido em vários municípios. Diferente do personalismo dos Gomes, que nunca apostaram na construção de uma estrutura partidária, Camilo pertence a um partido forte e estruturado, isso significa que apostar no seu partido e se distanciar do seu padrinho político é o caminho mais seguro para ter vida própria e autonomia política.
A campanha política foi uma das mais acirradas, onde o candidato Eunício Oliveira iniciou com um percentual muito elevado de preferência do eleitor, nunca teve menos de 40% por cento nas pesquisas, e foi o canalizador do desgaste e da imagem de prepotência consolidada pelos Gomes. A maior dificuldade de Camilo foi a de ter sido o candidato dos Gomes. Todavia, pela fragilidade intelectual de Eunício Oliveira e seu despreparo para liderança política, ele não conseguirá segurar o capital político que obteve na campanha, principalmente na capital, onde ganhou de Camilo. Nesse cenário, algumas características pessoais de Camilo podem ajudá-lo a ter uma empatia com a população: é educado, sereno, e tem sinalizado que seu governo vai ter mais diálogo com a sociedade, com as organizações políticas sociais e partidárias.
Em relação ao resultado de seu governo, penso que se Camilo priorizar quatros ações públicas, como segurança, saúde, cultura e desenvolvimento rural, e, do resto, fizer o melhor do mesmo que se tem feito até hoje, com certeza ele vai cair nas graças do povo. Ao longo da gestão, pode ir trocando parte do secretariado para ter uma gestão administrativa mais técnica e política do que parte da atual, que é politiqueira.
Camilo Santana é do mesmo partido que comanda o governo federal, semelhante à época em que Tasso Jereissati foi governador, o que pode facilitar a liberação de recursos para o Ceará. Todavia, Tasso tinha luz própria e presença política forte; já Camilo, ele chegou ao poder por apadrinhamento e não tem o significado de mudança política que teve Tasso quando chegou, pela primeira vez, ao cargo de governador do Estado. Porém, é o governador e tem o poder administrativo nas mãos, se demonstrar autonomia e sinalizar para seu partido e parte da sociedade que é vermelho [PT] e não amarelo [Pros], é o caminho para sair da sombra do padrinho e firmar-se como uma nova liderança; aderir ao possível mas incerto novo partido de Kassab/Cid é continuar na sombra. E teremos muito a ganhar se nos próximos anos, junto ao novo governo, vier a ser formada uma oposição forte e propositiva. Nesse sentido, Renato Roseno, do PSOL, pode cumprir um papel importante ao articular sua voz no parlamento com formação de opinião pública e mobilização social.