Da Coluna Fábio Campos, no O POVO deste domingo (14):
Cansado de ficar horrorizado, estarrecido, perplexo. É como o cidadão de boa fé se sente ao ler o noticiário acerca do escândalo da Petrobras. Nos últimos dois meses, a cada santo dia, um fato terrificante é exposto. Na sexta-feira, a mais medonha de todas as notícias até aqui: todo o comando da Petrobras, incluindo a atual presidente, Graça Foster, e o ex-presidente, José Sérgio Gabrielli, sabiam de tudo. Foram devidamente, seguidamente e detalhadamente avisados por uma funcionária de carreira da estatal.
A impressionante história que cerca o caso da geóloga Venina Velosa da Fonseca nos permite afirmar sem maiores ou menores pudores: uma máfia tomou conta da Petrobras. Esta senhora, até que se prove o contrário, deveria ser alçada à condição de uma brasileira especial. Por expor para os seus superiores os relatos com o itinerário da corrupção na Petrobras, Venina foi perseguida, transferida, ameaçada e demitida da estatal após 24 anos de serviços prestados.
Reportagem assinada pelo jornalista Juliano Basile (edição de sexta-feira, Valor Econômico) conta a sequência de acontecimentos. Desde os primeiros (em 2008) relatos internos feitos por Venina a seus superiores acerca da corrupção galopante, passando pelo seu, digamos, exílio forçado em Cingapura, até a decisão final, já assinada pela atual diretoria, de demitir (novembro de 2014) a executiva sem nem sequer uma exposição de motivos. Sugiro aos leitores que procurem a reportagem. A seguir, alguns pontos.
É tudo muito escabroso. “O desgaste de fazer as denúncias e não obter respostas fez com que Venina deixasse o cargo de gerente de Paulo Roberto, em outubro de 2009. No mês seguinte, a fase 3 de Abreu e Lima foi autorizada. Em fevereiro de 2010, a geóloga foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em Cingapura. Chegando lá, lhe pediram que não trabalhasse e foi orientada a fazer um curso de especialização”.
Do Valor: “Em 7 de outubro de 2011, Venina escreveu para Graça Foster, na época, diretora de Gás e Energia: ‘Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha’. ‘Diretores passam a se intitular e a agir como deuses e a tratar pessoas como animais. O que aconteceu dentro da Diretoria de Abastecimento na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo. Técnicos brigavam por formas novas de contratação, processos novos de monitoramento das obras, melhorias nos contratos e o que acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência’.”
“Após fazer centenas de alertas e recomendações sobre desvios na empresa, ela foi destituída pela atual diretoria, sem saber qual a razão, ao lado de vários funcionários suspeitos na Operação Lava Jato. A notícia lhe chegou pela imprensa, em 19 de novembro (de 2014). Um dia depois, a geóloga escreveu um e-mail para Graça Foster. ‘Desde 2008, minha vida se tornou um inferno, me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento’.”
“Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive’. A geóloga não detalhou no e-mail para Graça o que aconteceu, mas teve a arma apontada para si, no bairro do Catete. Não lhe levaram um tostão, mas houve a recomendação de que ficasse quieta. ‘Tenho comigo toda a documentação do caso, que nunca ofereci à imprensa em respeito à Petrobras, apesar de todas as tentativas de contato de jornalistas. Levei o assunto às autoridades competentes da empresa, inclusive o Jurídico e a Auditoria, o que foi em vão’, continuou.”
“Em seguida, ela reitera que se opôs ao esquema de aditivos na Abreu e Lima. ‘Novamente, fui exposta a todo tipo de assédio. Ao deixar a função, eu fui expatriada, e o diretor, hoje preso, levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida’, disse, referindo-se a Costa. ‘Agora, em Cingapura, me deparei com outros problemas, tais como processos envolvendo a área de bunker e perdas, e mais uma vez agi em favor da empresa (…). Não chegaram ao meu conhecimento ações tomadas no segundo exemplo citado, dando a entender que houve omissão daqueles que foram informados e poderiam agir’. A geóloga termina a mensagem fornecendo seu telefone a Graça”.