Com o título “Meio ambiente e eleições”, eis artigo do professor José Borzachiello, da UFC. Ele chama a atenção do eleitorado para os discursos voltados para a questão ambiental, observando que o tema vai muito além e precisa ser encarado como dedcisão ampla de gestão. Confira:
A campanha eleitoral aquece os ânimos dos mais exaltados, abre espaço para uma agenda fundada nos anseios da sociedade. Muitos temas são recorrentes e tornaram-se jargão nos programas dos candidatos. São tratados de forma artificial com propostas mirabolantes sem quantificação e previsão que se aproximem minimamente do plausível, em caso de execução. Alguns conceitos ficam esvaziados e perdem sentido. A prática do copiar colar funciona com muita agilidade, de forma que muita coisa que está escrita não ultrapassa os limites da formalidade. O Ceará tem que enfrentar com seriedade a discussão da questão ecológico-ambiental. Os problemas avolumam-se no campo e nas cidades, e são muitos: devastação do bioma caatinga, redução da mancha de Mata Atlântica, contaminação do solo nas áreas do agronegócio, assoreamento dos rios, ocupação indevida de vales e encostas, agressão constante nas dunas litorâneas, destruição de manguezais, desmoronamentos, inundações de áreas urbanas, entre outros.
Nas cidades, para onde migra grande parte da população cearense, há um contraste perverso. A área ocupada é pequena, quando comparada com as grandes extensões da problemática sertaneja. Entretanto, a ausência ou má execução das políticas públicas, criam problemas sócio-ambientais de grande monta, que interferem, sobremaneira, na qualidade de vida de milhões de cearenses. O saneamento básico, entendido em seu sentido amplo, constitui o mal maior. Não há saneamento sem habitação digna localizada em área dotada de infra-estrutura, equipamentos e serviços. Traduzindo em miúdos, casa é moradia, é vida. Tem que estar localizada próximo de escolas, hospitais. A rua tem e deve ser pavimentada e servida de redes de energia elétrica com eficiente iluminação pública, abastecimento de água, esgotamento sanitário, rede de telefonia, serviço regular de coleta de lixo. Moradia digna pressupõe proximidade com equipamentos culturais e de lazer, deve oferecer transporte eficiente que atenda às necessidades de acessibilidade e mobilidade no bairro e na cidade, deve oferecer segurança que permita que o cidadão deixe de ser refém em sua própria casa.
Para muitos, a questão ambiental restringe-se a falar da natureza, tratando- a de forma isolada da sociedade. Referem-se muito a desenvolvimento sustentável, em discursos eivados de imprecisões, incapazes de associar a ganância e voracidade de muitos empresários situados entre os maiores poluidores do estado, aqueles que rejeitam protocolos ambientais e criam grandes dificuldades para os gestores públicos. São muitos desses empresários os grandes financiadores das campanhas milionárias. O que esperar das promessas se o pressuposto do discurso sustentável é falacioso? Não podemos acreditar que devastadores de dunas, manguezais, bosques, praças e jardins farão sentinela em defesa do meio ambiente. Temos que estar alertas e cobrar.
Essa é a hora!
* José Borzacchiello da Silva
borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor titular da Universidade Federal do Ceará.