
Com o título “O homem cordial”, eis artigo do jornalista Henrique Araújo, editor-chefe do Núcleo de Cultura do O POVO. El abordou a participação de Tasso Jereissati no debate dos candidatos ao Senado, realizado nesse domingo, pelo Grupo de Comunicação O POVO, com veiculação na TV O POVO, Portal O POVO Online e exposto nesta segunda-feira, nas páginas do O POVO. Confira:
Curiosa a participação de Tasso Jereissati no primeiro debate de sua vida política desde que se tornou governador, no já distante 1986. Na TV O POVO, ontem, o “galego” lembrava um experimentado pugilista no centro do ringue. Embora tenha pespegado em Mauro Filho (Pros) o adjetivo de “garoto-propaganda do PT” quando este o fustigou com a pergunta de um milhão (“por que o senhor é contra a Dilma?”), o tucano escolheu, com garbo e satisfação, um caminho mais técnico. Em alguns momentos, tive a impressão de que falava a uma plateia do Centro Industrial do Ceará (CIC) e não a telespectadores estirados no sofá de casa num final de domingo.
Contrariando as expectativas, Tasso foi quase monocórdico, exceto quando Mauro o obrigou a explicitar que o candidato é contra o governo Dilma. E ele, Mauro, a favor. Mas não se ouviu, ali, o nome de Aécio ou de Eunício. O de Camilo, apenas quando o candidato do Pros já se despedia. Tasso é seu próprio fiador. Se considerarmos que Aécio naufraga nas pesquisas e dificilmente alguém o escolheria para afiançar qualquer negócio a esta altura do campeonato, a estratégia foi inteligente.
Classificado pelo empresário como uma troca de ideias “cordial e elegante”, o debate teve outros bons momentos. Instado por Raquel Dias (PSTU), por exemplo, o ex-senador defendeu o capitalismo, mencionando o fracasso do modelo soviético. O telespectador que, achando-se desavisadamente diante da televisão naquele momento, ficou sem entender se assistia a um debate entre candidatos ao senado federal ou a um grêmio estudantil.
Mais adiante, Tasso transformou uma fraqueza – ter muito dinheiro – em vantagem, apresentando-se como independente e patrão de si mesmo. Nesse ponto, aproximou-se de Eunício, cuja campanha tenta, aos olhos do eleitor, converter sucesso econômico em capacidade administrativa. Ora, uma coisa é habilmente enriquecer; outra bem diferente é cuidar do que é público. No Brasil, quase sempre as duas se encontram, para danação do que é público.
Tasso esgrimou ideias num tom de desapaixonado didatismo que contrastava com a retórica militante de Raquel, a aura de candura de Geovana “Marina” Cartaxo (PSB) e a indisfarçável verve política de Mauro. Foi bem-sucedido, o que não significa que tenha conquistado simpatias. Aparenta mais preparo, o que não é garantia de que será eleito.
Novamente, se acatarmos a possibilidade de que num debate haja vencedores e perdedores, hipótese da qual muitos discordam, no de ontem vejo claramente um empate técnico entre Geovana e Tasso. A pessebista por arrancar, com voz aveludada de professora de primário, nacos desse “animal sagrado” que se tornou Marina Silva. E o tucano cearense por bicar os adversários com a maestria de um velho jogador de xadrez.
* Henrique Araújo,
Editor-chefe do Núcleo de Cultura do O POVO.
(Foto – Sara Maia)