Com o título “Três Copas em 12 anos: Uma breve reflexão sobre o junho de 2014”, eis artigo que o médico Mariano Freitas manda para o Blog. Em um dos trechos, ele afirma que “a lição de 2014 revela uma gestão frouxa dentro da Granja Comary e um grande tráfico de interesses na convocação dos jogadores.” Confira:
O carnaval como o futebol são harmonizadores da convivência entre as nossas raças e um catalizador das múltiplas culturas brasileira. Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda e mais recentemente Darcy Ribeiro, intelectuais pais da nacionalidade e identidade brasileira, precisam ser relidos por todos nós para entendermos a extensão da agitação e da alegria coletiva, verdadeira amálgama social ocorrida no Brasil nos últimos dias com a realização da Copa do Mundo em nosso território. Quando o prefeito do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, em 1950 construiu o Maracanã e Brizola/Darcy Ribeiro o Sambódromo em 1985, estavam operacionalizando institucionalmente as duas maiores manifestações populares do nosso povo. Getúlio Vargas desde a década de trinta, quando assumiu o poder, procurava estimular as vertentes culturais que unificariam as diversas formas de lazer que retratasse a nossa mestiçagem, otimizando os relacionamentos inter raciais e coletivizando os vínculos fortalecedores da nossa unidade política como nação.
Depois de introduzir a revolução industrial européia no Brasil, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Previdência Social para segurança de vida dos trabalhadores urbanos, e iniciar-se a urbanização das grande cidades, era necessário a intervenção do ESTADO nos campos culturais e esportivos para consolidar, e só assim se conseguiria, uma Unidade Cultural Brasileira asseguradora da consolidação da alma da Nação. Um dos principais incentivadores foi o escritor e cronista Mário Filho, irmão de outro conhecedor da alma brasileira Nelson Rodrigues, merecidamente escolhido por todo povo carioca para nominar o maior e mais bonito estádio de futebol do mundo, Estádio Mário Filho, hoje planetariamente conhecido como Maracanã. Mário Filho pensava em tudo, junto com Heitor Vila Lobos, foram os grandes inspiradores do Presidente na sua empreitada, nada mais une os brasileiros que música, futebol e carnaval.
Hoje os jovens cientista sociais sequiosos de informações desvinculadas dos interesses das grandes corporações midiáticas monitorizadas por inimigos de políticas que libertam o Brasil do velho rame-rame das nossas elites que o País não pode ser uma nação autônoma, procuram estudar a ERA VARGAS como propulsora da nossa vida de relações humanas. A política cultural de Vargas soergueu nossa terra.
A Copa do Mundo de 2014 consolida definitivamente aqueles estudos de Gilberto, Sérgio e Darcy. Mas Mario Filho, o maior conhecedor das potencialidades do futebol incitava Getúlio e no começo da década de 1940, o Presidente institui oficialmente o Conselho Nacional de Desporto, não com o papel institucional de dirigir o futebol e outros esportes, mas com a função de incentivar, promover e prover o esporte de recursos e meios para prática e realização de disputas inter-regionais. O torneio Roberto Gomes Pedrosa, bolado por Mário Filho que, inicialmente, contava com a participação dos clubes do Rio de Janeiro e São Paulo, alargou-se para outros Estados e converteu-se no Campeonato Brasileiro, hoje devidamente renovado tornou-se o Brasileirão. O Conselho Nacional de Desporto quase sempre era dirigido por um oficial superior reformado das Forças Armadas, e até 1988 quando foi extinto pela Constituição Liberal que nos salvou da Ditadura Civil-Militar, prestou grandes serviços ao esporte nacional, especificamente ao futebol.
Para quem se alarma e se desespera com os 4 gols da seleção alemã aplicados em 6 minutos no Brasil naquela terça feira sepulcral, convém lembrar-se que o Brasil abocanhou 3 campeonatos mundiais em doze anos, 1958, 1962, 1970, todos sob o olhar e a intervenção do ESTADO BRASILEIRO, através do Conselho Nacional de Desportos, e mais, o tetra em 1994 e o penta em 2002 não formaram equipes nem de longe comparáveis ás 3 primeiras. Sem a colaboração e intervenção do Conselho Nacional dos Esportes mandou-se timecos para disputa. Naturalmente futebol não é matemática, em 1982 perdemos o título com um time ene vezes melhor que os de 94 e 2002.
A lição de 2014 revela uma gestão frouxa dentro da Granja Comary e um grande tráfico de interesses na convocação dos jogadores. Como um tsunami de emoção e alegria pode ficar entregue a pessoas e grupos que ninguém nunca ouviu falar? Quem é Marin e o novo dirigente da CBF Marco Del Nero? Quando o país conseguiu sediar a COPA do MUNDO em 2014, além de trabalhar nos campos logísticos e turísticos do evento, teria imediatamente que pensar ainda em 2007 no time, na equipe da comissão técnica que iria siderar toda população brasileira neste junho/julho. Ou o governo não se apercebeu da intensidade da mobilização das pessoas na época do evento?
Convém abrir um debate intenso com os desportistas decentes, com cronistas, técnicos e estudiosos das várias modalidades esportivas e do altar onde todos nós nos ajoelhamos para reverenciar a nossa mais intensa emoção coletiva, o futebol. Com esta tarefa posta, o Estado Brasileiro, através do governo de plantão, tem que dirigir democraticamente, apartidariamente, estas tratativas. Tem muita gente boa com muita vivência, capacidade e ansiosa para intervir no processo da reconstrução de uma nova Confederação de Futebol.