Em artigo enviado ao Blog, o jornalista Francisco Bezerra, o Bezerrinha, lamenta os remendos nas alianças partidárias nas eleições deste ano. Confira:
“Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade”. Sócrates, filósofo grego.
Os partidos brasileiros são realmente autistas. Ou surdos, para ficar no mínimo. Eles não conseguiram ouvir as vozes roucas das ruas, nem tampouco entenderam as questões de fundo nas manifestações de junho de 2013. Os manifestantes não tinham como alvo ninguém em particular, mas o repúdio era para todos os políticos e partidos de um modo generalizado.
Em todos os logradouros, praças e locais públicos, havia uma voz uníssona: partidos e políticos, não. As agremiações foram escorraçadas dos protestos como cães sarnentos. Não escapou nenhum da sanha dos que estiveram fazendo, de forma ordeira, o que é legítimo numa democracia: protestar contra o que não concordam. Mas, mesmo nos movimentos espontâneos, há sempre os oportunistas de plantão que se aproveitam das circunstâncias para se apropriarem de bandeiras alheias. As manifestações foram perdendo fôlego na medida em que grupos fundamentalistas se misturaram aos populares que pediam mais saúde, educação e ética na política.
Pois bem, nem o recado dado no ano passado fez com que os políticos que comandam os partidos fizessem um mea culpa ou uma autocrítica. A prova é o processo eleitoral em curso. Sem nenhum pejo, os políticos brasileiros fizeram, usando os partidos como biombo, todo tipo de negociata para a formação das alianças em todos os níveis.
As coligações armadas lembram o personagem Frankenstein ou o Moderno Prometeu (Frankenstein: ortheModernPrometheus, no original em inglês), mais conhecido simplesmente por Frankenstein. Ele é protagonista daquele romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico, de autoria de Mary Shelley, escritora britânica que ganhou as telas de cinema em várias versões. O romance relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório.
Os péssimos exemplos emanaram de Brasília. Os partidos viraram, assim, apenas uma sopinha de letras que isoladas não tem nenhum valor. Num cenário eleitoral sem verticalização, quando ninguém é obrigado a seguir diretriz nacional, nos corredores obnubilados dos poderes, os líderes partidários negociaram apoios desavergonhados, onde, como na lei de Gerson, o melhor é levar vantagem em tudo. Não importando a que custo. As histórias cabeludas são de fazer corar um frade de pedra.
Como nas últimas cinco eleições presidenciais, a não ser que haja uma grande zebra, tucanos e petistas vão polarizar mais uma vez a disputa. O noviço em disputas nacionais, Eduardo Campos, não deve empolgar o eleitorado. Como o povo não e besta fica fácil perceber o tamanho do arrivismo do ex-governador pernambucano que até ontem era um intransigente defensor do modo petista de governar a nação. Quando governador, Pernambuco foi o estado que mais carreou verbas para obras estruturantes. Assim como num passe de mágica o neto de Miguel Arraes se transformou no mais virulento crítico do governo Dilma. A sua candidatura, pasmem os senhores, virou linha auxiliar dos tucanos. Miguel Arraes deve estar estremecendo no caixão, posto que foi um dos mais destacados líderes da esquerda no século passado.
Destarte, o tempo é do liberou geral. Nos estados, as coligações são as mais esdrúxulas. Tem PT com PSDB, PSDB com PC do B, DEM com comunistas, progressistas com reacionários, verde com vermelho, e por aí vai. São alianças sem nenhuma coerência. O objetivo para os donos dos partidos é se dar bem.
Em tempo: o caso mais escancarado de fisiologismo foi o do PV do Ceará. O presidente estadual da sigla, Marcelo Silva, é acusado pelos próprios colegas de partido de ter se vendido ao Pros. Poucos dias depois de ter declarado apoio ao candidato de situação, a cara metade dele ganhou secretaria estadual do Meio Ambiente. Pegou muito mal para os verdes.