Com o título “Um toque para não recolher”, eis artigo do jornalista Fábio Campos, no O POVO desta quinta-feira. Ele aborda o desabafo feito pelo presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), Honório Pinheiro, sobre a crise na segurança pública. Confira:
Partiu do presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL-CE), Honório Pinheiro, a primeira manifestação pública oriunda de uma liderança empresarial do Ceará abordando o drama da violência que nos atinge. Em artigo publicado no O POVO (edição de 29 de agosto), Pinheiro pergunta no título: “Toque de recolher?”
Em seu artigo, o presidente da FCDL foge da polêmica local. Trata da questão como um problema nacional. É compreensível, considerando o nível de relação que as entidades empresariais mantêm com os nossos governantes. Afinal, foram publicamente notórios seus comprometimentos nas disputas eleitorais passadas.
Mas, os bastidores sabem bem o que motivou a ainda discreta, porém louvável, mobilização da CDL e da FCDL em torno do tema. A saber: a enxurrada de reclamações que muitos lojistas de Fortaleza e do Interior levaram ao comando de suas entidades. Lojistas assustados e com imensos prejuízos.
Sob a pressão desses acontecimentos, as duas entidades que representam o comércio puxaram uma discussão sobre o tema. “Foi a consciência dos fatores que geraram o aumento da violência no País aliada a sensação de insegurança que sequestra e sitia até o Interior que instigou os lojistas a agirem… Cerca de 17 presidentes dessas entidades se fizeram presentes a esse encontro, todos movidos pelo objetivo de sugerir ações efetivas para a redução dos índices de violência.”
No início de maio passado, uma foto frequentou o noticiário e as redes sociais. Nela se via a fachada de uma ótica (Casas dos Relojoeiros), em Russas, de portas cerradas, e uma faixa com os seguintes dizeres: “Estamos fechados por absoluta falta de segurança. 3º assalto”.
Honório Pinheiro diz que o “o propósito é firme e imutável: queremos o direito à segurança, mas não vamos somente exigi-lo, vamos, também, contribuir para a solução… Nossa intenção é somar esforços aos que o poder público já faz, dando sugestões que o torne mais eficiente para os cearenses, que mantêm nossos negócios e que não podem viver acossados por uma onda de violência que não tem retrocedido com as ações até agora impetradas”.
Quanto à exigência por segurança, que o engajamento (quando houver) dos lojistas numa campanha seja bem vindo. No que diz respeito às contribuições a favor das soluções, não é fácil saber o que os lojistas podem fazer além de pagar regiamente seus impostos e gastar parte dos lucros com um caríssimo aparato de segurança privada. No entanto, esperemos.
De início, um bom caminho para as entidades empresariais é cobrar resultados dos dirigentes públicos. São eles os responsáveis pela (in)segurança. Cada nota fiscal que os senhores lojistas expedem financia os salários deles. Até aqui, é chocante o silêncio governamental diante da tragédia cotidiana que vai matar quatro mil cearenses até o final do ano.
A quantidade de homicídios costuma ser o item mais citado por ser o índice internacional usado para medir a violência em uma cidade, estado ou País. Porém, os assassinatos apenas formam a ponta de um grande e assustador iceberg cujas bases são os assaltos, os furtos, os sequestros relâmpagos, as explosões de agências bancárias, o tráfico e uma série de outros crimes que aterrorizam o cidadão.
O termo “Toque de recolher” certamente foi uma liberdade semântica, mas, na prática, está sendo adotado por muitos que, aos seus modos, buscam estratagemas para se deslocar, a melhor hora para sair, ardis para esconder pertences (celulares, relógios, carteira), o dinheiro do ladrão, a bolsa do assaltante, a fila para blindar o carro, a opção por não sair nos fins de semana…
Não nos recolhamos. Quando mais exposição dos fatos e gente nas ruas para reclamar, melhor.
* Fábio Campos,
Jornalista do Grupo de Comunicação O POVO.