Com o título “O Significado dos Clamores das Ruas.”, eis artigo do professor universitário João Arruda. Ele analisa as manifestações que se irromperam em todo o País. Arruda avalia que o brasileiro está chegando ao limite da tolerância com tanto desmando e corrupção. Confira:
As manifestações crescentes que se espalham por todo o Brasil nos deixam uma certeza: a tolerância do brasileiro em relação aos desmandos e aos descasos governamentais chegou ao limite do suportável e começou a transbordar. Na noite de segunda-feira, no pico das manifestações de rua, quando o povo externava a sua revolta ao status quo da inoperância, para minha surpresa, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, com o ar de menino bobo, em nome do governo Dilma Rousseff, dizia, cinicamente, “não entender o significado desses movimentos”.
Ora, Sr. Ministro, não faça o povo brasileiro de idiota. As mensagens das ruas são claras. O povo não aceita mais viver sob os desmandos administrativos e nem sob a estoica indiferença dos governantes frente às suas necessidades materiais e as suas convicções morais. Sr. Ministro, respondendo a sua inesperada ingenuidade, podemos enumerar dezenas de elementos que, no conjunto, estereografam o significado da revolta que movimenta o sofrido povo brasileiro.
A corrupção no Brasil, que em governos passados era uma patologia endêmica, no governo petista assumiu uma dimensão epidêmica. A saúde pública, Sr. Ministro, por falta de prioridades e por escassez de recursos, encontra-se, há muito, na UTI. Os transportes coletivos são péssimos e caros. As cidades são caóticas e a péssima mobilidade urbana
inferniza a vida do cidadão. A Educação é catastrófica e não atende minimamente as necessidades de desenvolvimento nacional. No que pese a farta propaganda governamental, o déficit habitacional é alarmante.
A violência e a impunidade, Sr. Ministro, são outros ingredientes explosivos nesse quadro de revolta. Será que o senhor não percebeu que, sob a complacência do nosso ultrapassado código penal e com uma indiferença governamental quase doentia, a violência vem aumentando de maneira assustadora e a sensação de impunidade é uma realidade que agride
a consciência do cidadão comum. Como complicador, Sr. Ministro, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), numa gritante inversão de valores, criminaliza o cidadão e vitimiza o criminoso. Só para que Sua Excelência tenha uma pequena noção do tamanho da indignação do povo, o Instituto Data Folha, em recente pesquisa realizada em São Paulo, apurou
que 93% da população exigem mudanças profundas no nosso Código Penal e uma reforma significativa no ECA.
A inflação, Sr. Ministro, está sem controle, a economia sem rumo e o brasileiro sente o seu padrão de vida ameaçado. Enquanto faltam bilhões para atender as necessidades básicas da população, o governo petista, numa ação de inversão de prioridades, abre mão de dezenas de bilhões de reais para subsidiar empresários ineficientes. Se isso não bastasse, outras
dezenas de bilhões de reais são gastos para garantir a Copa do Mundo e a Copa das Confederações, isso tudo acompanhado por um verdadeiro festival de superfaturamentos criminosos.
Sr. Gilberto de Carvalho, a estrondosa vaia que a presidenta Dilma Rousseff levou por ocasião da abertura da Copa das Confederações não foi um ato isolado ou carente de significado. Essa vaia, Sr. Ministro, continha o recado de indignação. Infelizmente, esse grito das ruas o senhor e os seus apaniguados insistem em não escutar. Nela, também parece estar contida a sinalização de que a controvertida, corrupta e ineficiente era petista está chegando ao fim. Essas, ao meu ver, Sr. Ministro, são as grandes mensagem cifradas nas crescentes manifestações de rua no Brasil.
* João Arruda,
Professor universitário.