Com o título “Passeata Celestial”, eis artigo do médico Marcelo Gurgel. Uma homenagem a Francisco Monteiro, cuja morte completou um ano no último domingo. Monteiro era conhecido por “Chico Passeata” e foi personagem marcante na luta contra o regime militar. Confira:
O passamento terreno de Chico, em 12 de agosto de 2011, causou profunda consternação em seu torrão natal, Fortaleza-CE, que se expressou durante as celebrações fúnebres e na missa da ressurreição, rezada na intenção de sua alma, e obteve vasta repercussão em diferentes pontos do País, manifestada, largamente, nas mídias eletrônicas, com incontáveis votos de condolências, incluindo os registros oficiais de pesar em casas legislativas cearenses, estadual e de alguns municípios, e no âmbito federal, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado da República.
Ainda em agosto, por ocasião da reunião da SOBRAMES/CE, em que se faria a escolha do título a ser conferido à Antologia de 2011, a proposta “Passeata Literária”, apresentada pelo sobramista Geraldo Bezerra, obteve o consenso geral e foi aprovada, por aclamação, dispensando-se, liminarmente, a leitura das tantas denominações sugeridas, as quais podem vir a lume, nas próximas coletâneas.
Com esse título, foi prestado, assim, o justo reconhecimento póstumo ao poeta Francisco das Chagas Dias Monteiro, o Chico Passeata, ativista das boas causas, e que foi muito bem representado, no livro, por poesias de sua lavra e por manifestações dos confrades Celina Pinheiro, João de Deus, Manuel Fonseca e Natanael Charles Cruz. A quarta capa da antologia consagrou a tocante homenagem dos colegas ao sobramista recém-falecido “Chico Passeata”, ao expor seus traços e indicativos peculiares, a partir de uma foto devidamente “costomizada”.
Vale a pena comentar que no arranjo dessa quarta capa, a cabeça se destaca por exibir uns óculos de aro fino e um chapéu, tipo panamá, amarelo, com uma fita preta a circundá-lo, rente às abas; foi empregado um fundo vermelho, ideologicamente vivo, a mesma cor que foi aplicada em seus suspensórios, que marcam a sua camisa branca, sobre a qual foram enxertados os versos de uma das últimas poesias do Chico, de caráter premonitório, quanto à sua breve partida, como se desvenda abaixo:
Viajando
Pela linha do sofrimento,
Portador da alegria,
Da esperança,
Vai em paralelo
Rumo ao infinito
Busca o encontro, a luz,
Uma nova vida
Nas dimensões da eternidade.
Na 6ª Conferência Estadual de Saúde, realizada em Fortaleza, de 20 a 23 de setembro de 2011, fez-se uma pujante homenagem póstuma ao Francisco das Chagas Dias Monteiro, com a inserção nas páginas 15 e 16, do “Manual do Participante” da conferência, o texto “Chico Passeata: um sanitarista engajado”, de autoria do seu amigo e colega de longas datas, o médico Marcelo Gurgel, que acompanhou, de perto, sua linha de sofrimento, a caminho de uma vida nova no plano celestial.
Decorridas algumas semanas de sua morte, o Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, sentindo-se ainda enlutado diante da perda de seu ex-presidente, e movido por um sentimento, com resquício de viuvez, manteve a solenidade de entrega da Comenda Sindical Médica de 2011, apenas com a tintura burocrática, cancelando a tradicional festa oferecida aos seus sindicalizados, momento em que a entidade presta conta de suas ações sindicais.
Em 2012, foi homenageado, conjuntamente, pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco e pela Assembléia Legislativa daquele estado, na solenidade de comemoração dos 80 anos de criação dessa entidade sindical. Também foi homenageado no XI Congresso da FENAM, a Federação Nacional dos Médicos, realizado em Natal-RN, em junho de 2012.
Em janeiro de 2012, a SESA inaugurou, em sua sede, o “Espaço de Convivência Chico Passeata”, dotado de estrutura para realização de exposições, sistema de TV, painel interativo. O ambiente aconchegante, decorado com plantas naturais, dispõe de mesas e cadeiras, tornando um recinto apropriado para uma boa conversa, entre os servidores da casa, no intervalo dos expedientes de trabalho.
Com certeza, o espectro do velho Chico, como o rio da integração nacional, passeia ali, energizando o local com a força da sua garra, ceifada quando tanto ainda podia oferecer.
Quem sabe o querido companheiro, lá no assento etéreo, para onde subiu, esteja concentrado, sob o olhar cândido do Poverello D’Assisi, fazendo prevalecer a sua verve poética, entremeado por animados e movimentados passeios celestiais, ou até conduzindo uma passeata para romper uma determinada cláusula pétrea do céu.
* Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece
Da Academia Cearense de Medicina e da Sobrames/CE.
VAMOS NÓS – Chico Monteiro era um papo maravilhoso. Sempre de bem com a vida e com muita experiência pra dividir. Sempre viajava a serviço para Brasília quando em missão como líder sindical ou como assessor na pasta da Saúde do Estado. Ele adorava quando interpretávamos alguns de seus poemas. Era um cara gente fina. Apesar de teimoso vez em quando.