A polêmica troca do professor César Barreira pelo tenente-coronel Alencar no comando da Academia Estadual de Segurança Pública, que começou neste Blog, vira o Editorial do O POVO desta quinta-feira. Confira:
Os cearenses acompanham com atenção desdobrada a mudança na direção da Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp), cujo diretor geral, o conhecido estudioso da violência – sociólogo César Barreira – foi substituído abruptamente pelo coronel PM John Roosevelt Alencar, que estava no comando do Ronda do Quarteirão. Mudanças administrativas nessa área geralmente são sinalizadoras de certo tipo de filosofia que se quer dar relevância. Por conta disso, é mais do que justificada a atenção dos cidadãos e de suas entidades representativas.
Há o temor de que a entrega de uma função dessa importância a um quadro da própria Polícia Militar se constitua em retrocesso em relação à política de “inculturação” civil, defendida por segmentos importantes da comunidade acadêmica e de lideranças comunitárias que insistem no abrandamento da militarização da PM, como requer o Estado Democrático de Direito.
No Brasil, essa questão está no centro da batalha pelo aprofundamento da democracia brasileira. A polícia militarizada é o resquício de uma visão de mundo anacrônica, muito presente, desde os primórdios, na formação cultural brasileira, que vê na força e no autoritarismo – e não na persuasão e na convivência com o pluralismo e com a diversidade – o instrumento mais eficaz de controle social e de manutenção de uma estrutura social excludente.
A unificação das polícias como forma de resgatar a natureza civil da função policial é uma proposta de aceitação crescente na sociedade brasileira, à medida que as distorções do molde militarizado se tornam mais explícitas. É o modelo prevalecente nos países democráticos do mundo. Enquanto não se chega lá, é preciso eliminar ao máximo as excrescências, sobretudo, a cultura da violência e a mentalidade de encarar o desajustado social como um inimigo a ser eliminado e não a ser contido, preso e ressocializado.
Todas as tentativas para “humanizar” a PM têm fracassado (“não se coloca vinho novo em odres velhos” – adverte o Evangelho). A última foi o Ronda do Quarteirão, que terminou por incidir nos mesmos vícios. A presença de um especialista civil na direção do principal órgão formador dos quadros da PM suscitava a esperança de que essa cultura fosse minorada. Seu afastamento levanta sérias dúvidas sobre isso.