Em artigo no O POVO deste sábado (21), o médico, antropólogo e professor universitário, Antonio Mourão Cavalcante, comenta sobre o tratamento de Lula e Sarney em um dos maiores hospitais privados do país. “Não confiaram nos recursos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Eles estão salvos”, ressalta. Confira:
Esta semana os jornais estamparam a foto de Lula visitando Sarney no hospital Sírio-Libanês. Lula ficou doente. Um câncer na laringe. Teve que buscar cura e foi a um dos hospitais mais famosos do País. O tratamento realizado foi o mais moderno do mundo. Poucos meses depois, ele estava totalmente curado. Deus o abençoe que sim.
Sarney teve um sopapo nas coronárias. A semana em Brasília foi muito pesada. Uma cachoeira de denúncias que devem ter abalado o velho cacique do Maranhão. De pronto, o cateterismo mostrou o problema – artérias obstruídas – e, foi imediatamente realizada a intervenção. Molas especiais que abrem os vasos e fazem o sangue circular, sem riscos. Local? O mesmo de Lula.
Lula continuou o tratamento de fonoaudiologia – temperar a voz para novos palanques eleitorais – e, pós-sessão, visitou o velho companheiro de batalhas. Ambos, supostamente curados e prontos a voltar o exercício do jogo político e do tráfico de poder.
Estes dois senhores foram presidentes do Brasil. Tiveram problemas na área de saúde, recorreram à assistência privada. Não confiaram nos recursos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Eles estão salvos. Têm um largo sorriso na face, apesar dos vexames. Prontos para novas investidas eleitorais. Novas promessas.
Como fica a cabeça de quem tem um parente nos corredores dos hospitais públicos vendo essa foto? Uma família com a mãe numa maca, jogada no corredor de uma Emergência? Como fica o pai de família aflito com seu bebê nos braços, morrendo de febre, tossindo, com diarreia, se acabando na antessala da emergência? Por que o atendimento será lento, burocrático e ineficaz?
Será que estes senhores, tão felizes por haver conquistado suas curas, imaginam a aflição de seus irmãos republicanos morrendo por falta de assistência nesse imenso Brasil?
Mesmo o Produto Interno Bruto (PIB) indicando que somos o quinto maior do mundo, as diferenças ainda são abismais. Ainda existe o Brasil dos ricos, felizes e curados. E o Brasil do infortúnio, da dor, do sofrimento. Da desesperança. Como aproximar esses dois brasis?