“Quando Barbara Cariry – filha do cineasta Rosemberg Cariry – entrou na universidade para estudar cinema, ela percebeu que algo faltava na cena cultural de Fortaleza. A Cidade carecia de um festival capaz de priorizar filmes de jovens realizadores, que começavam a despontar no cinema brasileiro contemporâneo. Foi a partir desta inquietação que Barbara decidiu organizar a Mostra Outros Cinemas, que chega à quarta edição, em formato bem mais abrangente. “Deixamos de receber apenas filmes de universidade para mostrar e discutir filmes de arte, experimentais e contemporâneos realizados por cineastas de todo País. Temos uma grande diversidade de estéticas e ideias”, pontua Barbara, curadora e diretora da mostra.
Dos cerca de 100 curtas inscritos, 18 foram selecionados para esta edição, que começa hoje e prossegue até quarta, com exibições a partir das 19 horas, na Casa Amarela Eusélio Oliveira. Sem caráter competitivo, a mostra procura fazer um apanhado de diferentes propostas audiovisuais. Cinco filmes são cearenses: Roberto Cabeção, de Salomão Santana; Domingo de Águas Abertas, de Henrique Dídimo; Resta Um, de Aurora Miranda Leão; Monja, de Breno Baptista; e Mato Alto, de Arthur Leite.
Panorama
O desejo de concretizar a ausência em ação levou Breno Baptista a pensar o curta Monja, a partir de uma obsessão imagética muito específica: uma mulher sozinha em uma cama de casal. “As cenas que compõem o filme foram pensadas muito em torno do corpo da atriz e não o contrário. É a natureza de um corpo que performa em cena, que dá ao filme um tom”, comenta Breno, sobre a participação de Andréia Pires, que ganhou o prêmio de melhor atriz na última edição do Nóia – Festival de Cinema Universitário.
Aluno do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará, Breno explica que o filme foi construído de forma colaborativa. “A clareza em relação ao que nos movia acabava por refletir em toda a flexibilidade presente na composição das ações, em um corpo consciente tanto diante de si mesmo quanto diante de suas possibilidades de encenação”, comenta.
Selecionado pelo edital Revelando os Brasis, Mato Alto, de Arthur Leite, é um documentário sobre um complexo arquitetônico construído e mantido pela família Honorato na fazenda Mato Alto, que fica no município de Quixeré. “Sempre ouvia meu pai contar histórias sobre umas construções feitas de pedra na Chapada do Apodi. Ele prometeu me levar, mas nunca o fez. Resolvi ir por conta própria com um amigo e ao chegar lá, deparei-me com umas das coisas mais belas que vi”, recorda Arthur. O projeto levou o jovem realizador a conhecer a trajetória de Egídio Honorato, personagem com o qual conviveu por dois anos, até escrever o roteiro do curta, que já foi recebeu nove prêmios entre os 17 festivais de cinema no Brasil onde foi selecionado.
Entre as produções nacionais da mostra, o destaque é o paranaense O Garoto, o Mar e o Velho, de Marisa Merlo. O curta foi realizado a partir de uma disciplina de direção em documentário, ministrada pelo cineasta Eduardo Escorel, na Faculdade de Artes do Paraná. A composição e a temporalidade esgarçada dos planos são elementos fortes do curta. “Ele foi gravado ao acaso: eu estava passeando pela cidade a procura de algo e aquilo me chamou a atenção. Além de ter sido uma exigência do exercício ser de observação, esse tipo de linguagem é a que mais me atrai dentre todas as outras opções que temos no documentário”.
A abertura da Mostra Outros Cinemas exibe dois longas-metragens: Mãe e Filha, do cearense Petrus Cariry, e Roleta Chinesa, produção de 1973 dirigida pelo alemão Rainer Werner Fassbinder. “Há algumas décadas, Fassbinder era bem mais visto no Brasil e comentado no circuitos cult. Hoje anda meio esquecido, talvez por conta da hegemonia do cinema comercial. A Mostra Outros Cinemas faz jus à própria denominação ao colocá-lo novamente em foco”, afirma Barbara.
* Casa Amarela Eusélio Oliveira – Avenida da Universidade, 2591 – Benfica.
Entrada gratuita
PROGRAMAÇAO
Hoje (28)
Mãe e Filha – Petrus Cariry (CE, 2011)
Roleta Chinesa – Reiner W. Fassbinder (Alemanha, 1976)
Amanhã (29)
Triangulum – Melissa Dullius e Gustavo Jahn (Brasil/Alemanha/Egito, 2009)
Deus – João Krefer (PR, 2010)
Roberto Cabeção – Salomão Santana (CE, 2011)
Olhar Particular – Paulo Roberto (PB, 2011)
Domingo de Águas Abertas – Henrique Dídimo (CE, 2010)
O Garoto, o Mar e o Velho – Marisa Merlo (PR, 2011)
Eu já não Caibo mais Aqui – Benedito Ferreira (GO, 2009)
Vuvuzelas de Madureira – Vitor Medeiros (RJ, 2010)
Resta Um – Aurora Miranda Leão (CE, 2011)
Quarta (30)
A Fábrica – Aly Muritiba (PR, 2011)
Um Par – Lara Lima (SP, 2010)
Naufrágos – Gabriela Amaral e Matheus Rocha (SP, 2010)
Sobre o Resto dos Dias – Alerxandre Baxter e Luiz Felipe Fernandes (MG, 2010)
Monja – Breno Baptista (CE, 2011)
Julie, Agosto, Setembro – Jarleo Barbosa (GO, 2011)
Propriedades de uma Poltrona – Rodrigo John (RS, 2010)
Morte e Morte de Johnny Zombie – Gabriel Carneiro (SP, 2011) Mato Alto – Arthur Leite (CE, 2011)
(O POVO)