
Foto da matéria do O POVO
Há exatos 12 anos, o fortalezense Jocélio de Araújo Silva, então com 44 anos, foi preso após tentar sacar o seguro-desemprego, por meio de fraude. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, “a fraude consistiu em falsificações em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), bem como em guias de comunicação de dispensa – CD”.
Mas o caso somente ganhou repercussão nacional, em agosto de 2002, durante o julgamento na 12ª Vara Federal. O réu não somente foi absolvido, como ainda foi chamado na sentença de “homem forte, não desistiu, não entregou os pontos, não abandonou os seus, tampouco agiu com violência ou grave ameaça a outrem”.
Tamanha comoção foi fundamentada em uma matéria do O POVO (Polícia Militar impede trabalho dos catadores de lixo), publicada antes da data do crime, na época da desativação do aterro do Jangurussu. Na matéria, Jocélio de Araújo Silva, então catador de lixo, disse que “quem fez isso com nós não sabe a vida que a gente leva nesse lixo para os filhos não morrer de fome”. O texto destacou também que Jocélio de Araújo Silva era pai de oito crianças. O então catador ainda apareceu na foto com outros catadores, à procura de comida em uma área não policiada.
Em sua alegação final, o juiz da 12ª Vara Federal declarou: “É claro que esse homem não é um tolo. A vida não o fez assim porque se o fosse, iria pedir esmola. É um forte, é determinado, tem noção de que não pode lesar ninguém. Deu continuidade à sua existência. Para ele, todos os conceitos, ou quase todos, estão perdidos. Em seu admirável sentido prático, em seu fino discernimento, vincula-se às coisas essenciais, os conceitos relativos estão perdidos. Não merece condenação. O Estado o excluiu – decretou sua condenação máxima material – e somente apareceu para se redimir, na pele do sistema repressivo acusatório, para o condenar juridicamente através de palavras. É um homem livre, e o Estado não mais tem os meios de o atingir”.
Sem final feliz
Mas o que poderia ser a história de um herói acabou confirmando as acusações do Ministério Público Federal. O cearense voltou a se envolver com crimes de estelionato, o que lhe rendeu novas prisões.
A última ocorreu nesta quinta-feira (28), no município de Barras, a 122 quilômetros de Teresina, após Jocélio de Araújo Silva ser flagrado no interior de uma agência bancária com documentação falsa e três CPFs.
Segundo a Polícia do Piauí, o cearense faz parte de uma quadrilha interestadual especializada em golpes de empréstimos bancários. No momento da abordagem, o acusado estava na companhia de dois suspeitos, que conseguiram fugir. De acordo com o delegado Humberto Mácola, o grupo estava prestes a concretizar três empréstimos no valor de R$ 5 mil, cada.
Já a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), especializada da Polícia Civil do Ceará, aponta Jocélio de Araújo Silva como um dos principais integrantes do bando de Gidalton Cavalcante Queiroz, o Tom, 31, um dos maiores estelionatários do Nordeste, preso em fevereiro deste ano, na Messejana, por policiais da DDF.
Entre uma das maiores ousadias da quadrilha está o golpe de empréstimo consignado contra funcionários do alto escalação da Sefaz-CE e da Polícia Militar do Ceará.