Com o título “Dias piores virão”, eis artigo de Fernando Costa, sociólogo e publicitário. Ele comenta projeções feitas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB) acerca do que se pode esperar do futuro governo de Bolsonaro, hoje uma pregação pró-mercado. Confira:
O alumbramento de setores empresariais com o novo (força de expressão) governo que vem por aí revela bem o modo pensante do que os especialistas chamam de mercado: um mundo quase sem impostos e quase sem Estado. Nesse mundo digitalizado e online, a palavra de ordem é: chega de intermediários. Logo, pra quê Estado? Para mediar o quê?
O não pensamento de Bolsonaro cai como uma luva nos anseios neo e ultra liberais.
Mas como a política é um mar de contradições, excetuando-se no amor, tudo que vai embora, um dia volta, as declarações do futuro ministro das Relações Exteriores, se colocadas em prática, podem por tudo a perder, pelo menos para os exportadores de commodities.
Como o liberalismo é um poço sem fundo de contradições, a voz mais lúcida veio do senador Tasso, que numa recente mesa redonda fez a melhor análise do que pode vir por aí.
Lembrou as condições similares que levaram à eleição de Collor de Melo: o combate à corrupção, a redução do Estado e, mesmo ressaltando as diferenças temporais, alertou que é melhor ficar atento que cheio de certezas sobre os dias que virão. Aliás, como frisou bem na sua fala, Tasso disse que estava ali mais para confundir do que para explicar, parafraseando Chacrinha.
O mercado riu da ironia do senador, mas ficou com um ninho de pulgas atrás da orelha.
O senador continua sendo um político de visão, pelo menos quando olha para o Brasil, mas não quando indica um capitão para disputar a prefeitura de Fortaleza, ou um general para disputar o governo do Ceará. Não pelas patentes, mas pela competência.
E por falar em visão, que passe foi aquele do Ricardinho para o Leandro Carvalho no jogo do Ceará contra o Atlético Paranaense, lembrou aqueles lançamentos do Gerson na Copa de 1970.
E por falar em 1970, parece, pelo que se pode ver na montagem do próximo ministério, que estamos indo em direção a um novo milagre econômico à custa de grandes perdas no que diz respeito a liberdades individuais, étnicas e sexuais conquistadas à duras penas nas últimas décadas.
Não, eu não torço contra o Brasil. Se torcesse teria votado no Bolsonaro. n
*Fernando Costa
fernando@vervecom.com.br
Sociólogo e publicitário.