
Eis artigo assinado pelo professor José Borzachiello (UFC) intitulado “Quem fez o buraco?” e que pode ser lido no O POVO desta quarta-feira. Ele analisa um tema que, no campo da política, acabou na troca de ofensas e pouca profundidade.
A complexidade do subsolo das cidades modernas impôs uma nova abordagem à geografia urbana voltada à análise das redes instaladas. São quilômetros de fiação, dutos, galerias, tubulações, fundações, estacas, vigamentos, estações de rebaixamento, casas de bomba, túneis de metrô, trens, aquedutos, reservatórios, estações de rebaixamento, transformadores, ruas comerciais, etc. Nas cidades mais equipadas, muitos trabalhadores se deslocam sem ver a luz do dia nos metrôs ou vias subterrâneas. Em Paris, enormes galerias de esgoto atraem turistas do mundo inteiro.
A cidade para funcionar bem depende dessa trama complexa que alcança alguns metros de profundidade. Para articular as diversas empresas e os setores da administração pública que dão conta da gestão da cidade, é necessário um órgão rigoroso no que concerne ao funcionamento e controle dos problemas do cotidiano como vazamentos, curtos circuitos, inundações.
É evidente o caráter científico contido no tratamento das questões urbanas; daí a necessidade de cuidados especiais com as diversas redes contidas nas cidades. Quem controla essa cartografia urbana subterrânea com seus mapas específicos? A quem cabe o poder de autorizar ou não a abertura de buracos para instalação ou reparos em redes?
Em Fortaleza, esquentou a discussão em torno da paternidade dos buracos nas vias públicas. Se há dúvidas quanto à origem dos buracos, cabe pesquisar evitando enganos e jogo de empurra.
Essa discussão data dos tempos da Teleceará, Coelce, Cagece, Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza, antes da onda de privatização. Acostumamo-nos a ver ruas recentemente recapeadas ou novinhas em folha serem cicatrizadas em vários trechos por empresas prestadoras de serviços. Ao final das intervenções, a via é devolvida cheia de defeitos, com ondulações e desníveis que comprometem a qualidade do revestimento.
Infelizmente, não há um plano mínimo de controle das intervenções. O problema é bem maior, pois o subsolo de Fortaleza é um ilustre desconhecido. Quando se abre um buraco, muitas surpresas podem acontecer. Por que Fortaleza não tem mapeamento completo de seu subsolo com cartas detalhadas sobre extensão, direção, medida e capacidade das redes?
Seu porte de capital e metrópole situada entre as cinco mais importantes do País exige que as ações na superfície e no subsolo sejam sincronizadas. Não dá mais para ficar procurando o culpado. Por tratar-se de questão cidadã de forte impacto social e econômico, ao interferir na superfície construída da cidade, principalmente, em vias de circulação, essa exigência tem que ser firme e consequente. Com mais controle e fiscalização será mais fácil identificar o(s) culpado(s).
José Borzacchiello da Silva – Geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará
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