Com o título “Médico cubano não é rebolo”, eis artigo de Márcia Alcântara, da Academia Cearense de Medicina. “Sem escrúpulos, os dois governos não se entendem e os cubanos estão voltando para seu país, como um rebolo, deixando à margem sua autoestima e milhões de brasileiros desvalidos da sua segurança quanto a saúde, agora desmontada”, diz a articulista. Confira:
Os médicos cubanos chegaram ao Brasil em 2014, pelo Programa Mais Médicos, criado durante o governo Dilma Rousseff (PT), por razões tidas como políticas eleitoreiras. O povo desvalido, dos confins do País, os recebeu na esperança de que pudessem ter um mínimo de assistência médica no âmbito da atenção básica.
Esses médicos submeteram-se, voluntariamente, a normas de dois mandantes governamentais: o governo de Cuba e do Brasil. Os contratos foram intermediados pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e aceitos pelos cubanos.
Por outro lado, a classe médica, através de suas entidades constituídas, rejeitaram os cubanos, “em atos de corporativismo”, na avaliação da socióloga e escritora americana Julie Feinsilver, autora do livro Healing Masses (Curando as massas). Feinsilver analisa o Sistema de Saúde de Cuba (SSC) e o monitora há quase 30 anos, apresentando resultados cientificamente comprovados, que o elevam à categoria de exitoso, tal qual o faz a Organização Mundial de Saúde, dizendo ser esse Sistema um dos melhores do mundo.
Cerca de 63 milhões de brasileiros já passaram pelos cuidados dos médicos cubanos e desses, vinte milhões estão sob tais cuidados no presente momento.
Um registro de grande valia foi feito pelo jornalista, escritor e fotografo Araquém Alcântara, no seu premiado livro “Mais médicos”, o qual apresenta documentos valiosos em que a população demonstra ter hoje os médicos cubanos como pessoas que geram segurança para a saúde.
Mal o novo governo se organiza e ordens surgem no sentido de modificar a filosofia do Programa, incutindo ideias próprias do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Sem escrúpulos, os dois governos não se entendem e os cubanos estão voltando para seu país, como um rebolo, deixando à margem sua autoestima e milhões de brasileiros desvalidos da sua segurança quanto a saúde, agora desmontada.
Atos dessa natureza impetrados contra os cubanos e nosso povo são, no mínimo, cruéis. Merecendo uma avaliação maior por parte de todos os brasileiros, especialmente dos que, não tendo conhecimento próprio, ficam a repassar mensagens, muitas vezes sem base científica ou credibilidade comprovada, sobre essa questão.
O imbróglio criado pelos governantes da hora, de Cuba e do Brasil, atinge sem compaixão os mais pobres entre os pobres brasileiros.
*Márcia Alcântara Holanda
pulmocentermar@gmail.com
Médica Pneumologista e membro da Academia Cearense de Medicina.