Com o título “Jarro quebrado”, eis artigo do professor, médico e antropólogo Antonio Mourão Cavalcante. Ele aborda o quadro da sucessão estadual no Ceará. Confira:
A política é movida pela paixão. Ela queima as emoções de forma ardente. Consome tripas, coração e bolso. Fora disso é arranjo entre amigos. O cenário inicial da sucessão estadual parecia mais um arranjo entre amigos “tu ficas com isso e eu com aquilo.” Era um poder esquartejado entre leões famintos. Mas todos quietos e comendo. Felizes.
Eis que, de repente, um dos grandes leões da arena – leia-se Tasso Jereissati – levou um canto de carroceria. Lula veio aqui e disse claramente ao governador Cid: “esse aqui não!” Como ficar quieto? Engolir no seco, calado? Política é movida pela paixão. O restante, nem precisa comentar…
Por outro lado, Lúcio Alcântara, foi jogado fora do esquema desde a vez passada. Na hora de ser reeleito, puxaram-lhe o tapete. Ele sonhava por essa revanche. Apareceu-lhe, no último momento, como um belo presente. Vingança é uma bebida que se toma fria.
Está montado o cenário da luta. Há amores traídos. Há paixões insultadas. Combustível suficiente para a explosão que vemos.
Nisso tudo cabe a um cidadão comum a pergunta: o que tenho eu a ver com essa briga? Vai sobrar alguma coisa para nós? É bom que seja assim. Movimenta os bastidores e os palanques. Cria um frisson especial. Não há o que disfarçar. O Rei está nu.
Nós, eleitores juízes, esperamos que os contendores mantenham a compostura. E, se sobrar um pouco de lucidez – nessa repentina e fratricida luta – o que podemos esperar dos senhores? Será muito interessante se os ditos candidatos lembrarem-se de que é o povo quem decide…
O conflito de paixões mal-resolvidas interessa aos envolvidos. Mas nós queremos mais do que briga de egos inflados. A coisa em jogo é mais séria do que caprichos pessoais. Objetivamente, esse pega inicial poderia conduzir-nos a problemas bem mais complexos – que tipo de sociedade desejamos construir por aqui? Como enfrentar as questões que nos afligem?
Antonio Mourão, antropólogo e médico,