Como título “O que debater nestas eleições?”, o sociólogo Pedro Albuquerque, leitor deste Blog no Canadá, onde faz pós-graduação, diz querer dar uma contribuição ao debate. Confira:
Não foi em vão nossa guerra contra a ditadura, pois estamos ganhando a da democracia. A sustentabilidade desse processo é porque sua construção é compartilhada entre diferentes, em diferentes momentos. O Brasil de hoje não merece nossa acomodação, tampouco merece a normose que impede a emergência da rebeldia consequente. Esta, tão necessária à ousadia e ao protagonismo como qualidades de dirigentes públicos modernos e estadistas, como necessárias são à autonomia das entidades civis e movimentos sociais em face do Estado.
A democracia brasileira vive um momento virtuoso. Todavia, resta-nos ainda muito a pensar e a fazer nessa caminhada. Que políticas estruturais têm garantido os avanços e outras que terão de ser adotadas do ponto de vista estratégico? Que políticas sociais universalistas de inclusão e de alívio social (tão necessárias e urgentes, pois amanhã todos os que delas precisam estarão mortos) queremos manter, consolidar, mudar, inovar? Há projetos de país em disputa? Em que se assemelham, em que se diferenciam, em que se antagonizam?
Se não os há, que os inventemos nesse processo. Esse o centro do debate eleitoral, especialmente quando o Brasil, como sinal de sua mudança incontestável, dá-se ao luxo de ter todos os candidatos a Presidente com alicerces políticos fincados na luta contra a ditadura, na defesa e construção da democracia e partícipes diferenciados desse processo de transformação. O Brasil não merece o desconhecimento propositado de que o país está hoje melhor que ontem e de que, amanhã, terá de ser ainda mais. Tampouco merece o empobrecimento nem a redução desse debate a manobras eleitorais maniqueístas do delírio crônico do bem contra o mal.
Se, por um lado, essa manha ardilosa é despolitizadora, ela também faz retornar ao cenário politico e cultural da nação, a aflitiva e trágica, abominável e danosa fabricação do inimigo interno, produto usual das ditaduras. Vencer e vencer a qualquer preço, não. Fazer pensar o Brasil, disputar e vencer, sim. Como acoplar governabilidade e ousadia consequente na mudança? Que projeto de país queremos para um Brasil mais altivo economicamente e socialmente mais justo, com oportunidade igual de acesso para todos os seus filhos aos bens materiais e imateriais socialmente produzidos? O que conservar? O que mudar? O que melhorar? O que inventar? Como fazê-lo? Eis, para mim, a alma do grande debate. O novo Brasil merece.
* Pedro Albuquerque (Advogado – OAB-CE No. 16.224 – e sociólogo). E-mail : dealbuquerqueneto.pedro@gmail.com