
Na revista IstioÉ desta semana, o presidente nacional do PSDB, senador pernambucano Sérgio Guerra, fala sobre possibilidade do terceiro mandato de Lula e defende que seu partido invista em modernizaçaõ “em todos os aspectos”. Guerra substitui o senador Tasso Jereissati. Confira:
ISTOÉ – O sr. fala em modernização do PSDB. No que o partido precisa se modernizar?
Sérgio Guerra – Em todos os aspectos. Precisa de um novo plano de comunicação, de maior capacidade de mobilização da sociedade, maior interação com grupos sociais que hoje não participam da vida partidária. Temos que ter capacidade de nos estruturarmos no País inteiro. Não podemos ter importância em certas áreas, como São Paulo, e ser praticamente irrelevantes em outras. Nós temos problemas gerais de organização. A solução não é fácil e as leis eleitorais atuais não ajudam a reestruturação partidária. A sociedade acha que os políticos do PSDB são os melhores, mas, por alguma razão que precisamos compreender e solucionar, o PSDB não é compreendido como estrutura viva nos Estados e municípios. O partido precisa melhorar e precisa se abrir.
ISTOÉ – Que tipo de oposição deve prevalecer: a radicalização da crítica ao governo ou a manutenção de pontos de contato com o presidente Lula?
Guerra – Um partido de oposição numa sociedade democrática como o Brasil deve conviver e se comunicar com o governo. O importante não é ser campeão do radicalismo, mas ser campeão da eficiência. Temos que mostrar e provar que somos diferentes. Nós somos um partido que não deseja quebrar o País. Não torcemos pelo quanto pior, melhor.
ISTOÉ – Isso significa que FHC perdeu o debate interno? Porque ele, na convenção, defendeu um aprofundamento das críticas ao governo e chamou o presidente Lula de analfabeto.
Guerra – Fernando Henrique defende que tenhamos várias características para desenvolver. Uma delas é a da coerência. Devemos honrar o nosso passado, o nosso presente e produzir um futuro para o nosso partido e para o País. De maneira nenhuma enxergo nele um radical. É um democrata absoluto, integral, moderno. Os comentários sobre o presidente foram sobre o fato de Lula às vezes falar mal o português. Coisa que todo mundo sabe. Considerar que tem a ver com preconceito é não enxergar dois palmos à frente do nariz. O que nos atormenta, não só a Fernando Henrique, são as coisas que Lula faz e diz e que comprometem não só a ele, mas também ao País.
ISTOÉ – Por exemplo?
Guerra – Por exemplo, essas declarações sobre a democracia na Venezuela. Dizer que Hugo Chávez governa a Venezuela democraticamente prejudica a compreensão da sociedade do que seja democracia no nosso país. E prejudica a avaliação que se tem do presidente. Se é um democrata de verdade, Lula não deveria falar o que falou. Não podia elogiar uma democracia que todo mundo sabe que não existe como tal, e que gera para o continente um quadro que nos preocupa.
ISTOÉ – O sr. acha que o terceiro mandato é um desejo do presidente Lula?
Guerra – Eu fiquei muito preocupado com essas últimas declarações sobre a Venezuela. Mais do que preocupado, decepcionado. Ele afirmar que um regime autoritário como o de Chávez é uma democracia, sendo ele presidente do Brasil e alguém que teve uma história na democracia, que ganhou com ela, que assumiu um governo depois de uma transição absolutamente limpa, é algo que assusta. Eu quero acreditar que são divagações demagógicas. Conversa fiada sem maiores conseqüências.