
Com o título “Anatomia de uma fétida conspiração”, eis artigo do professor universitário e sociólogo João Arruda. Ele faz uma defesa da candidatura de Ciro para presidente. Confira:
Nas últimas quatro semanas, a grande mídia brasileira passou a noticiar a gestação de uma sórdida e desleal aliança política visando isolar a crescente candidatura do pedetista Ciro Gomes. Esta abjeta e esdrúxula articulação seria coordenada pelos emedebistas ligados ao presidente Michel Temer, pela cúpula do PSDB, pelos socialistas ligados ao governador de Pernambuco e por petistas fieis ao ex-presidente Lula. Além do esvaziamento da candidatura Ciro Gomes, o PT e o PSDB teriam o maior interesse em reeditar a artificial polarização entre petistas e tucanos.
A notícia desse diabólico pacto político, de início, não foi levada a sério pela maioria dos observadores e analistas políticos, pois acharam improvável que históricos e inconciliáveis desafetos políticos estabelecessem uma trégua em suas históricas rixas particulares e se unissem contra uma terceira candidatura. Não podemos esquecer que Ciro Gomes, o motivo do pacto, foi um histórico e leal aliado petista, tendo, inclusive, sido um destacado ministro no governo Lula.
Parecendo essa aliança tão ilógica, além de ser carregada de um maquiavelismo asqueroso, a notícia passou a ser analisada como mais uma teoria da conspiração, tão comum nos períodos eleitorais. Ou, para alguns, como um mero exercícios fantasiosos de alguns desinformados analistas políticos. Afinal, a estapafúrdia notícia se chocava com os propalados padrões éticos e morais sempre presentes nos discursos petistas. Não dava para acreditar que o imaculado PT, arauto maior da ética e dos princípios morais, as vestais confessas da pureza, entrasse nessa fétida e desleal prática política.
Infelizmente, a trama traiçoeira petista foi confirmada. A primeira sinalização concreta dessa “santa aliança” se deu quando a coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, publicou que o presidente Michel Temer e o Partido dos Trabalhadores estariam articulando uma manobra conjunta para reduzir o avanço da aliança em torno da candidatura Ciro Gomes. Segundo a coluna, os petistas teriam procurando dirigentes do Progressista, do PSB e do PR para falar contra uma aliança com Ciro. Eles estiveram com o presidente do PP, Ciro Nogueira, com o PSB e com Valdemar Costa Neto, líder do PR, porque temiam que Ciro colhesse votos no eleitorado do PT.
No dia seguinte à publicação do Painel, a grande imprensa publicou que o presidente Michel Temer teria ameaçado a sua base aliada com o rompimento se ela – os partidos do Centrão – aderisse a campanha do Ciro Gomes.
A partir dai, tudo foi só questão de tempo. Não suportando a pressão dos neo-aliados, no dia 19 de julho o centrão declarou apoio ao candidato Geraldo Alckmin. No dia primeiro de agosto, segundo o script traçado por Lula, o vacilante e anacrônico PCdoB, eterno puxadinha do PT, afirmou que manteria a candidatura de Manoela d’Davila. Restava, enfim, o PSB decidir qual o rumo a tomar.
Finalmente, no final da tarde da última quarta-feira, setores significativos da esquerda brasileira, incluindo petistas e socialistas, foram surpreendidos com o anuncio do Diretório Nacional do PT confirmando que o partido tinha decidido apoiar algumas candidaturas do PSB em troca da neutralidade do PSB na sucessão presidencial, isto é, na garantia que os socialistas não oficializaria apoio ao Ciro Gomes.
Uma verdade é desnudada nessa tragédia frankensteiniana: o Lula e o PT temem a vitória do Ciro Gomes. Sem proposta e sem candidato, os petistas sabem que Ciro Gomes está bem preparado, com propostas capazes de, no médio prazo, superar a maior crise da história do Brasil, crise legada pela incompetência do governo petista. Eles sabem que, se o Ciro Gomes for eleito, os seus sonhos de voltar à presidência jamais se realizarão.
Finalmente, com esse pragmatismo maquiavélico, com a explicitação de que os fins justificam os meios, mesmo que os meios impliquem em destruir sorrateiramente antigos aliados, o PT mostrou do que é capaz quando os seus fins almejados estão em jogo. Profeticamente, o saudoso Leonel Brizola, fundador do PDT, ainda em 1989, já havia vaticinado: o Lula pisaria no pescoço da própria mãe para ser presidente.
*João Arruda
Sociólogo e Professor da UFC.