Com o título “Desânimo na construção civil”, eis artigo do jornalista Raone Saraiva, do O POVO. “A queda da inflação, da taxa básica de juros (Selic) e a retomada do emprego formal seriam a combinação perfeita para a construção civil voltar a vender imóveis e planejar novos empreendimentos”, diz o texto. Confira:
Importante “termômetro” da economia nacional, a construção civil pouco avançou desde que o Brasil começou a dar sinais de que estava saindo da crise, no início do segundo semestre de 2017. Em julho do ano passado, por exemplo, pela primeira vez em 33 meses, o setor voltou a gerar empregos. Na época, o Governo Federal comemorou o fato, atribuindo o desempenho à trajetória de recuperação do mercado de trabalho.
Os empresários do setor até esboçaram certo otimismo diante da melhora de indicadores econômicos. A queda da inflação, da taxa básica de juros (Selic) e a retomada do emprego formal seriam a combinação perfeita para a construção civil voltar a vender imóveis e planejar novos empreendimentos.
Hoje, um ano depois, o otimismo novamente deu lugar ao desânimo. Embora o desemprego tenha caído em junho, passando de 12,7% para 12,4%, a crise no mercado de trabalho do País ainda atinge 13 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consequentemente, afeta a capacidade de consumo das famílias. Para muitas delas, o sonho da casa própria teve que ser adiado, apesar das facilidades oferecidas pelas construtoras e instituições financeiras.
Na construção civil, foram cortados 170 mil postos de trabalho em um ano. O total de ocupados na atividade encolheu 2,5% no segundo trimestre de 2018 em relação a igual período de 2017. E esse impacto no setor, que durante o período da crise amargou o fechamento de centenas de empresas e a perda de bilhões de reais, mexe com diversas outras áreas da economia.
Considerando empregos formais, informais e indiretos, a estimativa é que cerca de 13 milhões de pessoas trabalhem no setor. A cada R$ 100 investidos na construção civil, R$ 25 retornam aos cofres públicos em forma de imposto. Porém, com a desaceleração da atividade econômica, esse dinheiro está deixando de circular no País.
Apesar da tentativa do Governo de reaquecer o setor, as alternativas não têm surtido o efeito esperado. Na última terça-feira, a União flexibilizou as regras para empréstimo imobiliário pelos bancos e elevou de R$ 950 mil para R$ 1,5 milhão o limite de valor dos financiamentos de imóveis que permitem o uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No mesmo dia, a Caixa Econômica Federal reduziu os juros do crédito imobiliário para pessoa jurídica. Isso sem falar em outros incentivos anunciados pelo banco, a exemplo do aumento do teto para financiamentos de imóveis usados.
Mas a delicada situação econômica, puxada pelo elevado índice de desemprego, tem atrapalhado a construção civil. A confiança do empresário ainda não voltou. E dificuldades como elevada carga tributária, demanda interna insuficiente, falta de capital de giro e burocracia excessiva permanecem.
*Raone Saraiva
raonesaraiva@opovo.com.br