Com o título ” E se a esquerda fosse a oposição?”, eis o que indaga o colunista Fábio Campos, no O POVO desta quinta-feira. Ele convida a uma reflexão expondo um cenário diferente do que se, tem no momento, nessa política de tantos escândalos. Confira:
Quem conheceu de perto o modo petista de fazer oposição, que durou mais de duas décadas, sabe que os oposicionistas de hoje são, digamos, amestrados. Dóceis e caseiros bichanos. Fossem os petistas os oposicionistas de hoje, creiam, não sobraria pedra sobre pedra na política. Aliás, o Governo já teria caído desde 2005, ano em que explodiu o mensalão.
Visualizem o seguinte quadro com a esquerda na oposição: mensalão escancarado, o esquema esquadrinhado de forma detalhada pelo Ministério Público, julgamento no Supremo levando à prisão o tesoureiro do partido do poder, além de membros da cúpula desse partido e até o seu presidente.
As ruas teriam ficado de prontidão, sindicatos e centrais sindicais promoveriam grandes manifestações, as redações explodiriam de indignação, os protestos seriam levados às instituições estrangeiras, propostas de impeachment se multiplicariam, greves seriam convocadas e toda sorte de ações seriam providenciadas até o limite.
E qual seria o limite? Ora, a queda dos “meliantes” que tentaram solapar a democracia comprando com dinheiro público a base de apoio parlamentar. O argumento pelo impeachment seria a defesa da democracia, justamente o argumento de hoje, só que contra o impeachment. E o que fez a oposição real diante do mensalão? Preparou-se para ser derrotada nas três eleições presidenciais seguintes.
E no cenário de agora, dez anos depois? Imaginem a esquerda na oposição se deparando com uma gangue que, no poder, concretizou um projeto criminoso desde já considerado o maior escândalo de corrupção já registrado no mundo, que surrupiou bilhões de empresas estatais no maior conluio público-privado de nossa história.
Imaginem também a forma como agiria a esquerda Brasileira na oposição se o BNDES, a CEF e a Itaipu distribuíssem R$ 855 mil para bancar uma manifestação do “movimento social” em Brasília para apoiar o Governo e atacar seus opositores. Sim, foi o que aconteceu com a “marcha das Margaridas”.
São cenários hipotéticos que servem para analisar o comportamento da oposição hoje. O que se pode chamar de oposição ao Governo está restrito a um punhado de partidos. O principal deles é o PSDB, que está longe de ser considerado radical. Um partido com baixa influência no parlamento e com pequeníssima inserção social no território nacional.
Hoje, a oposição ao Governo parte da própria base que, até muito recentemente, concedia folgadas vitórias ao petismo no Congresso. Muitas vezes, uma oposição reforçada com votos até do PT. Parte também de movimentos que nasceram fora do âmbito de partidos, que organizam manifestações de rua e se declaram, em boa parte, liberais.
Fossem de esquerda, tais movimentos seriam chamados de “sociais”. Como não são, passam a ser ironizados e estigmatizados. De fato, se comportam de forma muito diferente do que o Brasil se acostumou a ver nas ruas desde a metade da década de 1960.
O fato é que são esses movimentos, e não os partidos de oposição, que encabeçam a manifestação marcada para o próximo domingo. Os atos que devem ocorrer em todo o País são apontados como termômetros políticos importantes. É evidente que o impacto vai depender do tamanho das mobilizações.
*Fábio Campos,
jornalista do O POVO.