Com o título “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, eis artigo de Rodrigo Cardoso, estudante de Direito da Universidade de Fortaleza. Ele aborda liberdade de expressão, repercutindo ainda o recente ataque ao jornal francês Charlie Hebdo. Confira:
O maior ataque terrorista na França desde 1835, aconteceu semana passada em Paris. O crime aconteceu no escritório do jornal satírico “Charlie Hebdo”, que já havia sido alvo de um ataque no passado após publicar uma caricatura do profeta Maomé. A revista foi criada após a morte do general Charles de Gaulle, quando o governo francês proibiu a veiculação no jornal satírico “L’Hebdo Hara-Kiri” da manchete: “Baile Trágico em Colombey: um morto.”. Uma sátira da morte do general de Gaulle.
Os cartunistas contornaram a situação, lançando um novo jornal, o “Charlie Hebdo”. Assim, nascia o jornal mais comentado do mundo no momento, cujo nome foi inspirado em Charlie Brown, um personagem de histórias em quadrinhos. O Jornal foi semeado do pensamento criativo nascido nas barricadas estudantis de maio de 1968. Ele possui alguma semelhança com o saudoso Pasquim, criado no mesmo período, mas sem a genialidade do jornal brasileiro.
As charges do jornal ultrapassavam o limite, tanto que era baixo o número de vendas. Mas, não existe nenhuma atenuante para o fato ocorrido na França, como alguns tentam propagar.
Porém, não há nada mais oportunista que a tentativa de ganhar politicamente com uma tragédia, tentando ligar esse violento atentado contra o jornal Charlie Hebdo com o projeto de democratização da mídia no Brasil ou a boa relação diplomática brasileira com o Estado Islâmico. Algumas pessoas tentam usar uma atrocidade feita por psicopatas autoritários e liberticidas para usufruir-se politicamente. Não podemos confundir a ação de islâmicos terroristas extremistas com todos os muçulmanos. A Universidade de Al Azhar, a segunda mais antiga do mundo e principal autoridade do Islã sunita, destacou a “extrema gravidade” do crime.
O ato que aconteceu em Paris deve ser repudiado por todas as pessoas na luta pela não violência no mundo, mas também devemos acrescentar no nosso repudio todas as barbáries cometidas pelo mundo, na maioria das vezes pelos próprios estados. A marcha contra o terrorismo na França comoveu a todos, e foi a maior manifestação da história de Paris. Mas, como em toda manifestação existem os oportunistas de plantão, que buscam espaço para aparecer na mídia, colocam óleo de peroba na cara e pregam o que não praticam, como foi o caso de diversos chefes de estado que participaram da marcha.
O caso mais emblemático foi do líder israelense Benjamin Netanyahu, que ordenou as mortes de mais de duas mil pessoas inocentes na última ofensiva em Gaza, incluindo idosos, mulheres e crianças. O governo francês não queria sua participação no evento, mas para aparecer o líder israelense forçou a barra, em busca de visibilidade, tendo em vista as eleições em Israel que se aproximam.
Infelizmente, o ato terrorista deve reforçar o sentimento anti-islâmico e anti-imigrante na União Europeia, que já estava contaminada por um sentimento de ódio contra esse povo. A extrema-direita europeia deve ganhar frutos políticos com o atentado. A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, aproveitou o momento de tensão no país para propor a pena de morte na França, um ato demagógico para ganhar saldo político com a morte de inocentes, logo a extrema-direita francesa que era uma das principais vítimas do jornal satírico “Charlie Hebdo”.
Acho que ser Charlie nesse momento não deve ser motivado pelo que o jornal escrevia, que era de péssimo gosto, por sinal, nem para idolatrar a publicação, mas porque devemos ser contra o uso de qualquer forma de violência para coibir a liberdade de opinião, mesmo discordando dela.
O ideal seria que o lema da Revolução Francesa norteasse o Mundo, principalmente a Europa e a França após os fatos que ocorreram em Paris, ou seja: “Liberté, Egalité, Fraternité” (Liberdade, igualdade, fraternidade) para todos.
As consequências após os fatos ocorridos na França devem ser trágicas, mas devemos lutar para que as consequências sejam opostas aos ataques de triste memória ocorrido nos Estados Unidos no 11 de Setembro. Devemos lutar que esse episódio em solo francês tenha um saldo positivo para o mundo, que, deveria ser; Mais AMOR menos ÓDIO e mais PAZ menos GUERRA.
* Rodrigo Cardoso,
Estudante do Curso de Direito da Unifor.