Com o título “BNB: Bairrismo do Nordeste do Brasil?”, eis artigo do ex-secretário do Turismo do Ceará, Allan Aguiar. Ele aborda o caso de Ary Joel, catarinense agora nomeado presidente do Banco do Nordeste. Allan lembra que o banco não é do Nordeste, mas do Brasil.
O Banco do Nordeste é do Brasil, não do Nordeste do Brasil. A estrutura de capital do Banco tem no Tesouro Nacional sua principal fonte de sustentação e quase a totalidade de seu funding é constituído pelo FNE, um Fundo Constitucional capitalizado por um percentual do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza de TODOS os Brasileiros. Sua atuação majoritária é que é no Nordeste do Brasil.
É de origem feudal a decepção explicitada por alguns formadores de opinião pelo simples fato do brasileiro, ontem designado, para presidir a Instituição não ter nascido no Ceará ou em algum estado nordestino. Chega a ser risível o argumento segundo o qual o Nordeste foi desprestigiado pela Presidenta Dilma, com esta escolha. Roberto Smith, paulista, só recebeu seu titulo de cidadão cearense após assumir o importante posto. Homenageado ao longo de seus oito anos no Banco e indicado pelo Deputado Guimarães, somente agora se conheceu a fragilidade de sua governança. Byron Queiroz, cearense indicado pelo Governador Tasso Jereissati, pilotou sob as mais pesadas turbulências administrativas vistas na Instituição, as quais produziram cicatrizes no organismo administrativo do Banco. Jurandir Santiago, também cearense, preferiu pedir o boné antes do primeiro aniversário da sua posse. Assim, ao longo de 16 anos sob o comando de cearenses e paulista, a mais importante Agência de Fomento da economia do Nordeste foi mal usada por segmentos imaturos da política da região, resultando hoje na maior e mais autofágica e fratricida luta interna pelo poder.
A Presidenta, com a designação do Catarinense Ary Joel Lanzarin, manda um recado animador para o Nordeste informando que não permitirá que esse estado de coisas inviabilize o Banco, patrimônio dos Brasileiros. Tenta fortalecer o Banco, blindando-o e conferindo uma gestão técnica e meritória. O que se espera é que tenha sido concedido o mínimo de autonomia para o novo Presidente presidir. Que ele tenha musculatura ministerial suficiente para deixar claro que o Banco agora tem um Presidente que inaugura uma nova agenda de trabalho.
Registre-se que esse comportamento paroquiano é muito latente entre os próprios Estados da região. Eu mesmo já fui alvo dele quando assumi a Presidência da EMPETUR – Empresa de Turismo de Pernambuco. Sofri a discriminação de ser um cearense dirigindo uma Estatal pertencente ao Governo de Pernambuco. Assim, cabe o apelo para que ofereçamos a necessária trégua inaugural, deixando o novo Presidente trabalhar em paz e tentar reconstruir aquilo que nós, nordestinos, quase destruímos.
* Allan Aguiar, Consultor, foi Secretário do Turismo e Presidente da EMPETUR e da CTI/NE.