
Com o título “A Questão Ambiental e a Soberania Nacional”, eis artigo de João Arruda, sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará. Ele aborda a cobiça internacional e a riqueza da Amazônia. Confira:
A cobiça internacional sobre as infindáveis riquezas acumuladas no subsolo amazônico e sobre sua riquíssima biodiversidade é antiga. Há séculos, países como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Holanda e várias outras nações europeias sonham com a criação de mecanismos capazes de pôr fim à soberania brasileira sobre o mais rico e inexplorado território do globo.
Nesse longo espaço de tempo, a presença clandestina, na região, de estrangeiros e de maus brasileiros a serviço do capital internacional tem sido uma constante. Para se apropriarem das riquezas amazônicas, se adaptando às condições históricas da época, eles mudaram as táticas, os agentes e as narrativas, mas os objetivos continuaram os mesmos: saque das riquezas minerais, da biodiversidade e, como objetivo final, a internacionalização da rica região Amazônica.
Inicialmente, a presença se dava através de milhares de estrangeiros e seus cúmplices brasileiros que prospectavam as riquezas amazônicas travestidos de missões evangélicas, de antropólogos ou de botânicos, ávidos por mapearem nossas riquezas minerais e contrabandearem nossos minerais, nossa fauna e flora.
O saque amazônico ocorria sob o fajuto manto legitimador do nobre sentimento cristão ou em nome desinteressado da ciência. Juravam sobre a Bíblia Sagrada – mesmo carregando um magnetômetro ou outro instrumento localizador de metais preciosos – que suas missões eram a de preservar a cultura indígena, suas tradições e o seu território, ameaçados por grileiros ou por madeireiros e comerciantes inescrupulosos.
Mais recentemente, a narrativa do altruísmo cristão não mais convencia ninguém. Era necessário atualizar, com apelo mais emocional, uma narrativa mais convincente para justificar a presença ostensiva de mais de cem mil ONGs e de outras “entidades humanitárias e ambientalistas” na região.
E não foi uma tarefa difícil. Contando com o apoio financeiro e político dos países centrais, da cumplicidade da grande mídia nacional e de parte da esquerda reacionária e entreguista brasileira, também travestida de ambientalista, eles conseguiram a legitimação necessária.
Com a grotesca e fraudulenta tese da causa antropogênica do aquecimento global, associada à histeria de que a Amazônia, o pulmão do planeta, estava sendo destruída e pondo em risco a vida do planeta, foi fácil criar o clima político-emocional legitimador dos objetivos alienígenas.
Nos anos sessenta do século passado, a esquerda brasileira e setores nacionalistas já denunciavam insistentemente os torpes objetivos das propaladas missões evangélicas naAmazônia. Mais recentemente, têm sido recorrentes denúncias, por parte de setores das forças armadas, da presença nociva aos interesses nacionais dessas ONGs e entidades ambientalistas.
Na edição de 12 de 02 de 1995, o jornal Folha de São Paulo publicou um longo e emblemático artigo intitulado Uma Teocracia na Amazônia, do jornalista e escritor Janer Cristaldo. No seu lúcido e revelador artigo, ele desnuda e desmistifica a questão amazônica. Segundo ele, o cerne do problema não é a ´preservação do índio e suas tradições, mas as riquezas do solo e do subsolo amazônico. E é categórico em revelar a lógica que segue as demarcações das terras indígenas: nenhuma ONG se preocuparia com as culturas hutu ou tutsi, em Ruanda, ou com a dos Miskitos na Nicarágua. “A diferença é que os índios brasileiros vivem sobre um solo riquíssimo”. A demarcação das terras indígenas é sempre precedida pela descoberta de jazidas minerais. Quando se fala em Waimiri-Atroaari, leia-se
cassiterita; quando se fala em reserva Ianomami, leia-se cassiterita, ouro, fosfato. Os Macixis podem ser traduzidos por diamantes, etc.
Esta tem sido a lógica seguida em todas as solicitações de demarcação das terras indígenas. E há também componentes novos nos ataques aos interesses nacionais. E o grande alvo é o nosso agronegócio, a mais eficiente agropecuária do mundo ameaçando os ineficientes produtores rurais europeus. Não podemos esquecer que somos os grandes produtores de commodities agropecuários do mundo, garantindo a segurança alimentar de uma parte significativa da população mundial. E isto ficou muito claro nos seguidos pronunciamentos do presidente Macron, defendendo descaradamente a ineficiente e subsidiada agricultura francesa quando conclamava a União Europeia a boicotar o agronegócio brasileiro que, segundo ele, é o grande responsável pelo desmatamento que causa o aquecimento global.
A grande verdade é que a soberania nacional, mais do que nunca, está ameaçada. E é lamentável perceber a cumplicidade da grande mídia nacional, de setores expressivos da nossa intelectualidade, de formadores de opinião e de parte da esquerda reacionária brasileira com os interesses antinacionais.
*João Arruda,
Sociólogo e professor da UFC.
(Foto – UFC)