Com o título “Cantinho sem crise”, eis artigo do jornalista Luiz Viana, que pode ser conferido no O POVO desta terça-feira. Ele fala do “Cantinho do frango”, restaurante onde a crise passou longe. Confira:
Tempos de crise e o papo de mesa de bar descamba invariavelmente pra as dificuldades, os dissabores da economia malvada, essa madrasta a apertar o cinto de todos. No último sábado, estávamos praticando essa gincana de agruras, competindo sobre quem mais perdeu, quem mais sofre com os infortúnios.
A dona do hotel lamentava o ano ruim, carente de turistas. O vendedor de celulares chorava a queda de 25%. Para o empresário de serviços que muito depende do poder público, a situação é de dar dó. Faltam negócios, os pagamentos atrasam…
Mas, como dizem os chineses, crise é risco, mas também oportunidade. Lá mesmo onde estávamos, no Cantinho do Frango, parece que a tal da crise se recusou a aparecer. Foi o que contou Caio Napoleão, proprietário. Enquanto bares e restaurantes têm queda na receita, demitem, encolhem, o Cantinho vai faturar este ano mais que no ano passado. Isso se repete todos os anos, desde a fundação em 1994.
Quando Caio abriu a pequena venda de frango assado, na varanda da casa dos pais, havia forte concorrência no quarteirão da Torres Câmara. Ele percebeu que tinha que se diferenciar para crescer. Passou a abrir nos feriados e fins de semana. A estratégia deu certo e ele é o único sobrevivente da época ainda de portas abertas.
Em maio, quando sinais da crise começaram a bater na porta, ele reuniu a equipe para reagir. Ficou acertado com os funcionários evitar até mencionar a palavra crise, entre clientes e fornecedores. Caio é daqueles donos de bar sempre presentes no negócio. Já abriu filial no Edson Queiroz e, comenta-se, vende oito mil frangos por mês.
Mas o que será que ele tem que os outros não têm? O que o faz diferente? Quais as lições que o Cantinho deixa para o mercado de comida fora de casa? Uma pesquisa realizada pelos americanos Collins e Porras, resumida no livro Feitas para Durar, nos dá uma dica.
Aponta que o maior diferencial de um negócio duradouro é a visão de longo prazo. Ser visionário faz empresas longevas que lideraram seus mercados, são admiradas e seus padrões são copiados pelas outras empresas. Você também conhece algum cantinho imune à crise? O que será que ele faz para rir enquanto se chora?
*Luiz Viana
luizviana@opovo.com.br
Jornalista do O POVO e âncora do programa “O POVO no Rádio”, da POVO/CBN.