Em novo debate de TV, Capitão Wagner (PR) promete trazer hoje denúncia contra a gestão Roberto Cláudio (PDT). A “promessa”, que prenuncia novo embate entre os adversários, reflete ainda linha que tem ditado rumos da disputa: com poucas horas para conquistar o eleitor, campanha em Fortaleza subiu tom e tomou ares de agressividade mútua livre.
Desde debate da TV O POVO no último domingo, atuação dos candidatos e aliados foi marcada pelo acirramento. Para especialistas, apesar de natural, a opção tem efeitos imprevisíveis e pode até virar “tiro pela culatra”. “Acaba funcionando só com uma parte específica da população”, diz o cientista político Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Ao mesmo tempo em que você pode ser interpretado como ‘macho’, corajoso, pode ser visto também como aquele cara sem proposta, que se esconde no ataque”, diz. Nove pontos atrás nas pesquisas, Wagner tem se destacado na ofensiva na propaganda eleitoral. RC e seus aliados, no entanto, não têm poupado o adversário de agressividade.
Exemplo mais claro é do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que tem diariamente disparado ofensas contra Wagner nas redes sociais, chegando a chamar o deputado de “bandido” e “fascistóide”. Mesmo sem histórico de se envolver em polêmicas, a vice-governadora Izolda Cela (PDT) também tem compartilhado vídeos apócrifos contra Wagner e acusado o militar de fazer “atropelos à ética”.
O candidato PR, por outro lado, também tem explorado tom agressivo no horário eleitoral e nos debates televisivos. Nos últimos encontros, o prefeito reagiu diversas vezes criticando postura do adversário, chegando a ameaçar Wagner de ação judicial. Os ataques, no entanto, acabam sendo mútuos.
Publicidade de combate
Para o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a estratégia é falha e só “beneficia” o índice de votos brancos e nulos. “Essa ‘publicidade de combate’ não é eficaz para agregar votos. Ela produz algum tipo de desgaste a quem recebe ataque, mas como há troca de chumbo, acabam se anulando”, diz.
Para ele, a tática acaba se propagando por conta de um “mito” de que ela seria eficaz. “Só quem parece acreditar são os políticos e publicitários. Quem sofre efeito muito ruim é a política, porque aumenta o descrédito do eleitor com os partidos. Só quem tende a crescer são os votos brancos e nulos”, avalia Baía.
A cientista política Nayara Macedo, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), também destaca a incerteza da estratégia. Ela aponta, por exemplo, que ação do PT contra Marina Silva (Rede) na disputa presidencial de 2014 acabou dando certo naquela eleição, mas gerou visão negativa que foi amplamente explorada em atos e pleitos posteriores.
“Às vezes, uma campanha agressiva consegue acabar com a imagem da rival, mas isso depende muito da capacidade do adversário em sustentar suas posições”, avalia. “Isso pode ter um efeito negativo também, principalmente se as acusações forem mal fundamentadas ou se houver uma contra campanha eficiente do outro lado”, diz a cientista política.
(O POVO – Repórter Carlos Mazza)