Com o título “Compromisso com a responsabilidade”, eis o Editorial do O POVO desta terça-feira. Aborda o celeiro de obras da Copa 2014 ainda inacabadas.
Reportagem da edição de ontem do O POVO mostrando que apenas quatro das dez obras previstas na matriz de responsabilidade da Copa de 2014 em Fortaleza foram entregues à população é exemplar do grau de amadorismo do setor público. Não só pelo fato de mais da metade das obras projetadas não terem sido finalizadas, mas também pelas dúvidas acerca da real necessidade de algumas delas.
É o caso, por exemplo, do Terminal de Passageiros do Mucuripe, obra federal finalizada meses após o fim do torneio mundial de futebol ao custo de R$ 224 milhões. O equipamento recebeu os passageiros de alguns poucos transatlânticos que aportaram em Fortaleza, mas a ociosidade do terminal é tamanha que a sua principal fonte (irrisória) de recursos é o aluguel como espaço de eventos sociais à beira-mar.
Pelo menos uma das obras iniciadas talvez jamais chegue ao fim. Também federal, a ampliação do Pinto Martins era uma das mais importantes das obras da Copa no Ceará. E também uma das mais caras, orçada em R$ 280 milhões. Hoje, o cenário é desolador. Quase R$ 53 milhões foram consumidos em uma obra que foi abandonada. O aeroporto será privatizado, e ninguém sabe se a montanha de concreto e ferro servirá para o futuro terminal.
O VLT Parangaba-Mucuripe, de responsabilidade do Estado, é outro caso escabroso. A um custo estimado de R$ 265 milhões, a obra passou meses abandonada. Foi retomada em 2016, mas caminha em notória lentidão. No que pese a boa vontade do Governo de dar prosseguimento ao projeto, ainda está muito distante de ser finalizado e seu modelo urbano se mantém questionável.
É chocante a informação de que há cerca de cinco mil obras públicas
abandonadas no Brasil. Estima-se que esses investimentos alcancem a cifra de R$ 15 bilhões. É um gravoso sinal de que o País precisa dar uma guinada em seu modelo de gestão pública. Obras mal dimensionadas e de qualidade duvidosa, caras, licitações suspeitas e falta de planejamento indicam que é preciso romper com um formato administrativo que, muitas vezes, chega a ser irresponsável.”