Com o título “Odiar cansa”, eis artigo do jornalista e sociólogo Demétrio Andrade. Ele aborda o ódio que, muitas vezes, sentimos de algo ou de alguém. mas fala da importância desse sentimento, sob medida. Confira:
Não entendo nada de Psicologia. Sou um franco atirador de opiniões sobre a natureza humana. Por diversas vezes já me referi, entre assustado e indignado, sobre o ódio corrente que flui pelas chamadas mídias sociais. Acredito que opiniões apaixonadas – sobretudo na política – usam tanto o amor quanto o ódio para abastecerem seu repertório. Mas não é exatamente sobre isso que quero falar.
Eu mesmo, quando em vez, disparo verbalmente minhas convicções. Não gosto muito de falar. Mas quando acho que estou “com a razão” por vezes saio do tom. Minha esposa, recentemente, me alertou que eu inclusive assustava as pessoas. Prometi me policiar. Mas, a partir deste fato, desdobrei duas ideias.
A primeira é reconhecer que o ódio é importante, na medida certa, para acender em nós alguma chama reativa, quando necessário. Longe de mim a intenção de fazer festa para um sentimento tão mesquinho. Mas muitas vezes bondade demais só serve para sermos feitos de idiotas. Fugir do conflito nem sempre é a melhor saída, muito pelo contrário. E, estando no meio dos lobos, não dá para se combater oferecendo o próprio sangue.
A segunda é perceber que é necessário colocar o ódio em seu devido lugar. Porque tem gente que parece que usa o coração qual alambique, somente para destilá-lo. Move-se especialmente ou unicamente através de uma raiva incansável. Aliás, nunca vi palavra mais adequada para definir um cidadão raivoso do que “enfezado”, ou seja, literalmente, “cheio de merda”, com o perdão da palavra.
O fato é que odiar demais cansa. Cansa quem está ao seu redor. Quem se dispôs a lhe ouvir. Quem sentou na mesma mesa que você querendo compartilhar a amizade em torno de uma modesta (e gelada) garrafa de cerveja. Quem se preocupou em lhe ajudar porque lhe ama ou divide o mesmo teto.
Tem mais: odiar cansa a quem odeia. Não precisa ser gênio para perceber que é profundamente lamentável se gastar tanto tempo da nossa curta vida falando, pensando ou tentando atingir uma coisa (ou pessoa) da qual não se gosta. O alvo do ódio passa a ser o principal – ou um dos principais – objetivo de sua existência. Dito de outra forma: você passa a viver em função daquilo que detesta. Francamente? É burrice extrema.
Certamente, reside aí a superioridade absoluta do amor, num campo de batalha no qual o ódio sempre será derrotado. A ação de amar não impõe limite: amar é sempre bom, a qualquer hora, com qualquer pessoa, em qualquer situação. Faz bem ao coração, à autoestima, à formação do caráter. Esperto era Jesus, quando aconselhou a “amar o outro como a ti mesmo”. Até porque, aqui pra nós, quem odeia demais, não ama a si próprio.
*Demétrio Andrade,
Jornalista e sociólogo.