Com o título “Feliz Ano Novo para o Centro”, eis artigo do geógrafo e professor emérito da UFC, José Borzacchiello, que pode ser conferido no O POVO desta quarta-feira. Ele volta a cobrar revitalização do Centro de Fortaleza, promessa antiga e sempre repetida, a cada ano, pelo prefeito de plantão. Confira:
E lá se vai mais um ano e o Centro continua abandonado. Reuniões e mais reuniões, propostas e projetos acontecem e o Centro da Cidade se ressente ainda pela falta de ações compatíveis com sua dinâmica e significado. A gestão pública, entretanto, tem sido frágil e incapaz de empreender ações, consoante o papel exercido pelo Centro.
A Cidade cresceu muito, surgiram novos bairros com muitas oportunidades de comércio e de serviços. Aldeota, Montese, Guararapes Parangaba e Messejana são territórios em processo de transformação. O Centro prosseguiu em sua saga dinâmica, ampliou seu raio de ação, integrou novas áreas, virou centro expandido se refuncionalizou e assumiu o papel de grande centro da periferia metropolitana. Qualquer tentativa de trazer o antigo centro de volta será frustrada.
O Centro tem que ser pensado e planejado com o potencial de seus novos sujeitos sociais, integrantes da cena urbana mais expressiva da Cidade. Tem e devem ser assumidos pelos gestores, pois são eles que dinamizam a área central e apontam suas demandas e necessidades para seu ordenamento e organização. A tentativa oficial de retomada de antigas funções deve ser bem pensada. O Centro de Fortaleza é dinâmico porque mantém o comércio de rua vivo e movimentado.
Na Cidade, todos os caminhos levam ao Centro e é nele que todos se encontram. Polo cultural por excelência e excepcional entreposto comercial de trocas e de serviços, em suas ruas uma multidão se movimenta em todas as direções. Comerciantes, empresários, estudantes, camelôs, artistas de rua animam e fazem do Centro um lugar alegre e concorrido. Políticas de segurança e limpeza públicas eficientes garantiriam tranquilidade e exerceriam forte impacto sobre os usuários do Centro da Cidade.
É uma área carente de políticas públicas capazes de gerar um novo ordenamento urbano que melhore as condições de vida, sem descaracterizá-la.
Na condição de espaço múltiplo e único da Cidade, pensar o Centro pressupõe atender antigas demandas da sociedade contemporânea preocupada em preservar o patrimônio do passado sem abandonar o conforto e as facilidades decorrentes das novas tecnologias. Restringir o trânsito na área central exige alternativas de mobilidade urbana que facilite a acessibilidade.
A retirada do automóvel só pode ser pensada com a construção de bolsões de estacionamentos em áreas periféricas ao Centro, garantindo acesso aos usuários. O alargamento e a melhoria das calçadas são urgentes. Atrair novos moradores para a região central é uma estratégia positiva para dinamizar e democratizar diferentes territórios, especialmente, no período noturno.
Que o ano de 2016 seja mais generoso com nosso querido Centro. Que possamos frequentar seu comércio tranquilamente, assistir mais espetáculos no Theatro José de Alencar e no Cineteatro São Luiz, assistir missas e cultos em suas igrejas e templos, passear em suas praças, se divertir ao entardecer e nos fins de semana. Que o
Centro seja mais nosso!
*José Borzacchiello da Silva
borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor emérito da UFC.