Com o título “Turismo/CE – A tempestade perfeita”, eis artigo de Allan Aguiar, ex-secretário do Turismo do Ceará. O ex-titular da Setur fala de obras inacabadas como o Acquario, aeroportos regionais fantasmas e falta de critério na escolha do titular da pasta, que deveria ser um técnico de fato. Confira:
O longo eclipse que toma conta da atividade turística do Ceará nos últimos anos parece não ter fim e pode ser observado de qualquer parte do território cearense. O apagão da gestão pública é produto do completo abandono da agenda técnica/mercadológica, a qual foi demitida pela agenda política/eleitoral, prejudicando a mais valiosa vocação econômica do nosso Estado.
Os negócios envolvendo a cadeia produtiva do Turismo garante o abastecimento da geladeira de milhares de cearenses que sequer conseguem entender que seu emprego depende do vigor dessa atividade econômica. O Governo, importante indutor dessa composição, optou por isolar-se em uma agenda esclerosada que não consegue contribuir para o incremento dos agregados turísticos do Estado.
Com uma SETUR convertida em Secretaria de Obras Públicas e uma invasiva Casa Civil em Secretaria de Eventos & Outras Causas, temos hoje dois aeroportos regionais fantasmas, um esqueleto de Aquário e um Centro de Eventos que, por falta de ação mercadológica, não conseguiu elevar em nada o fluxo turístico para o Estado. O descalabro das gestões afasta investidores do segmento e impõe um nanismo inquietante diante do potencial de tamanho do nosso turismo.
Quanto às ações de marketing e promoção do Destino Turístico temos um festival de bizarrices e excentricidades que em nada agrega ao turista e muito menos ao Turismo e serve apenas para exorbitar os gastos do Estado e beneficiar poucos. A promoção de shows musicais batizada de “Férias no Ceará” é um acinte a razoabilidade e um deboche para com o orçamento público. A péssima relação custo x benefício dessas festas é reconhecida até mesmo pelo próprio Governo do Estado. Técnicos da própria SETUR não poupam críticas a essa farra com dinheiro público. Afirmam, intramuros e com razão, que as ações promocionais não veem sendo chanceladas pelos números dos agregados turísticos, que recuam a cada ano.
A origem do caos reside no processo de escolha do secretário da pasta, a qual, juntamente com outras de igual importância estratégica, deveria ser retirada da grade política e inserida na grade técnica. Não é possível lotear algumas secretarias entre correligionários ou tesoureiros de campanha eleitoral. A falta de experiência em gestão pública, a completa miopia quanto as sutilezas do setor e a pouca capacitação dessas pessoas vem jogando o Estado em atoleiro insuperável.
Para dramatizar ainda mais a situação, as facadas desferidas em turistas e cearenses, ajudam a sangrar ainda mais a imagem do nosso Destino Turístico, hoje se notabilizando nos principais mercados emissores como Destino arriscado demais para trazer a família.
Caso se consolide essa má fama, com a queda do fluxo turístico, muitos postos de trabalho serão destruídos e muitas geladeiras estarão vazias, agravando, ainda mais, a violência.
* Allan Aguiar.
Ex-secretário do Turismo do Ceará e Presidente da Fundação de Turismo do Nordeste (CTI/NE).