Com o título “Viver através dos amigos”, eis mais um artigo do sociólogo e jornalista Demétrio Andrade. Neste período santo, um texto, sem sombra de dúvida, rico de ensinamentos de amor ao próximo.
Um dos maiores sinais de amadurecimento de um ser humano, em minha modesta opinião, é a consciência de sua finitude. Saber que a morte é uma realidade que chega para todos, geralmente de forma inesperada. Longe de parecer um agouro ou uma ode ao fatalismo, trata-se justamente do contrário: ao saber que temos um tempo curto neste mundo, devemos aprender a gastá-lo criando bons momentos, mais marcantes e alegres, de preferência compartilhados com quem se ama.
Dito isso, é fácil saber que sempre sinto uma imensa sensação de felicidade em reunir minha família, por exemplo. Além dela, tive a sorte de encontrar e construir relações duradouras com meus amigos. Sobre eles, costumo dizer que tenho poucos, mas bons. Alguns de nós – como eu – já possuem filhos maiores de idade, formando uma segunda geração criada em nosso entorno. Penso nisso como uma grande bênção.
O grande barato de ter amigos é porque você compartilha seus sentimentos. Divide com eles o impacto das tristezas e amplifica as alegrias. Amigo mesmo, de vera, provoca em você esta maravilhosa sensação de viver através deles. Sorrir ou chorar por eles e perceber a mesma reação deles em relação a você. Coisas absolutamente raras, que não têm preço, não são vendidas em lojas e nem navegam em redes sociais.
Esta semana um grande amigo, meu compadre, o matemático Fábio Montenegro, galgou o título de professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC). A euforia tomou conta do meu coração. Há mais de 25 anos nos encontramos para jogar conversa fora, tocar e cantar, beber e ver nossos filhos crescerem. Claro que, quando em vez, rola briga e discussão. Mas amigos não têm medo do conflito. Ao contrário, usam estes momentos para crescer e aprofundar suas ligações.
A convivência sadia constrói pontes inquebrantáveis. Por isso, sei que há algo de mim nele e há muito dele em mim, como é natural dos grandes amigos. Porque por estas pontes passeia nossa ilusão de eternidade: algo que ficará depois do fim, permanecendo como uma chama nossa em outras pessoas, aquelas que nos são de fato especiais.
Somos – assim acredito – uma grande colcha de retalhos que vai sendo costurada aos poucos, de forma nem sempre retilínea, colorida ao sabor de perdas e conquistas, nossas e de quem nós amamos. É esta a coberta que nos protege da dor, do egoísmo, da inveja e de outras tentações da mesquinhez que também compõem o cenário da humanidade. Ao Fábio, e a todos os meus amigos, expresso a gratidão por me ajudarem na difícil tarefa de tentar ser uma pessoa um pouco melhor.
* Demétrio Andrade,
Jornalista e sociólogo.
VAMOS NÓS – Gostaria de compartilhar dessa alegria do Demétrio. Conheço Fábio Montenegro dos tempos do Grupo de Jovens da Parquelândia (Joupa), na Paróquia de Santo Afonso (Igreja Redonda), na Parquelândia. Parabéns, Fábio. De fato, não tem preço ver a felicidade e o sucesso dos amigos.