Com o título “Compromissos de Ano Novo”, eis o primeiro artigo 2015 do jornalista e sociólogo Demétrio Andrade. Em clima de crônica, com um bom toque de sensibilidade e esperança. Confira:
Neste 2015, não prometerei o que não poderei cumprir. Farei o possível, quando possível for, e o infinito me será lembrado somente pela multiplicação interminável de formigas na cozinha. Desejo que o mar permaneça em ondas e que a praia finalmente ensine aos diletantes como é simples e difícil equilibrar grãos de areia em forma qualquer que caiba gente, água, sal, coqueiro e vendedor de picolé.
Em 2015, desejo um céu azul. Que chova, mas fique azul. Que chore, mas fique azul. Só pra que eu – que nem gosto assim tanto de azul – note, às vezes, em momentos quando me perder de mim mesmo, que é bonito tê-lo – o azul – sempre e sobre. Que a perenidade do azul fortaleça nosso caminhar como manto de oração (principalmente às segundas-feiras).
Em 2015, que haja trabalho para viver. Que haja trabalho para comer. Que haja trabalho para vestir. Que haja trabalho para construir. Que haja trabalho para compartilhar. E que seja bastante para que eu me lembre como é importante o descanso, o ócio, o sono, a música, um copo de whisky e jogar conversa fora.
Eu desejo que meus amigos e minha família sejam muito felizes em 2015. Mas, principalmente, que eu prossiga chamando-os de meus e minha. Assim, do jeito que são, nem mais, nem meio mais. Que perturbem meu juízo como música alta de madrugada, vizinho usando furadeira, menino quebrando a casa e alarme de carro renitente: pro bem ou pro mal, que eu saiba retribuir a alegria das suas presenças.
Eu me comprometo a amar em 2015. E que seja um amor maior, como o de pai pra filho, que é o amor maior que conheço, além de Deus. Que este amor me venha porque estarei disposto a enxergá-lo mesmo naqueles dias quando eu pisar em merda de cachorro logo pela manhã. Que eu aprenda a rir mais e agradecer o pão nosso de cada dia como um milagre.
Eu desejo que os dias passem e que eles sejam para mim mais serenos só porque tentarei aprender a olhar pra cara do tempo, a decifrar seu riso de zombaria dos meus cabelos mais brancos ao me debruçar na varanda. Assumo o compromisso de perceber a beleza das coisas que são – ao nascer, crescer e morrer – no próximo e nos demais anos. Deste jeito, com a paz entre as mãos, que eu consiga partilhar felicidade.
Demétrio Andrade
Jornalista e sociólogo
demetriofarias@gmail.com