Com o título “Roberto Macedo e a força do Made in Ceará”, eis artigo do jornalista Luís-Sérgio Santos. Ele destaca a importância de livro recentemente lançado pelo ex-presidente da Federação das indústrias do Estado, Roberto Macedo, via Edições Demócrito Rocha. Confira:
Não é comum em nosso Estado um livro que exponha na primeira pessoa o que pensa, o que defende e o que move um empresário com larga experiência no cotidiano da árdua atividade de empreender no Brasil e, em especial, em regiões contempladas com desigualdades que impactam em seu Índice de Desenvolvimento Humano.
Por isso é que a leitura de “Made in Ceará — Indústria e Cidadania na Integração Local-Global”, do empresário Roberto Macedo, lançado agora pelas Edições Demócrito Rocha é um prazer redobrado e renovado a cada capítulo. O alentado volume, com 632 páginas, é uma bem organizada coletânea de artigos, ensaios e ideias do empresário, acionista do Grupo J. Macedo e presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará por dois mandatos consecutivos. E edição é primorosa, cheia de dignidade gráfica com layout clássico e margens generosas como deve ser um livro e, com a exigência do autor, toda feita no Ceará, inclusive a excelente impressão e o primoroso acabamento. Uma acrílica sobre tela de Aldemir Martins ilustra a capa desenhada por Geraldo Jesuíno.
O desprendimento do autor em expor com clareza e objetividade suas ideias, num amplo compartilhamento, traduz a vocação humanista do grupo que dirige, inserido umbilicalmente nas coisas essenciais da República, dentre elas o compromisso social coma empregabilidade, a defesa do meio ambiente e a transparência corporativa a ponto de, há alguns anos, ter publicado uma peça institucional mostrando quando em impostas o grupo contribuíra para o desenvolvimento do Brasil — uma peça arrojada e inovadora. Um traço marcante da inserção local em um contexto global é a valorização da cultura tão bem expressa no painel em pastilhas vítreas de autoria do artista plástico Estrigas, inaugurado em outubro de 2004, na fachada lateral leste da sede do Grupo J. Macedo, em Fortaleza. Trata-se da visão do autor da chegada do navegador espanhol Vicente Yanez Pinzón enseada do Mucuripe.
O prefácio, do inquieto economista Delfim Netto, pontua passagens importantes do livro de Roberto Macedo e ressalta o pragmatismo do autor quando defende que os empresários comecem atuando localmente e, assim sucessivamente até chegar ao global. Este, alias, é o primeiro o tema do primeiro capítulo do livro “Pensar localmente, agir globalmente” que inicia uma sequência de dez blocos temáticos organizados em capítulos. Percebe-se um livro organizado com enorme acuidade e afeto e que, certamente, deverá habitar nossas bibliotecas principalmente em cursos focados em Economia, Gestão, Planejamento, Administração, Política e Cidadania.
Macedo é enfático quando defende que “um padrão de competitividade mundial em nossa indústria […] só será possível mediante uma profunda mudança cultural para a inovação e se nós empresários desempenharmos o papel de protagonistas do desenvolvimento.” E, nesse ponto, lembra os padrões de competitividade da economia local é sustentado, na últimas décadas “com base em indústrias intensivas em mão de obras e este modelo precisa ser repensado.” Uma sucessão de argumentos a favor da qualificação do profissional e, assim, de uma indústria com base em tecnologia e em marcas acaba apontando para a única saída: “isto só será possível se tivermos um ensino realmente de qualidade e adotarmos em todas as atividades o princípio da meritocracia e o respeito aos valores da cidadania.” Sua preocupação coma educação e recorrente bem como na criação de uma rede de circulação de informação sem a qual o conhecimento ficará represado.
Some-se a isso, a defesa da criação de oportunidades de trabalho em segmentos de inovação tecnológica, fator de diferenciação e de competitividade.
No plano da reorganização do Estado, o autor defende a urgência da reforma Política, que criarás condições objetivas para todas as outras reformas. “Em função disso, tenho defendido a necessidade de um posicionamento consciente em favor do voto de qualidade para expurgar da vida pública os políticos traidores da política.”
Experiente e com um evoluído feeling premonitório, Macedo vaticina, fazendo coro com os brasileiros politizados, que “expurgar da vida pública os políticos corruptos requer a eliminação das práticas corruptoras.” Quando escreveu isso, 28 de julho de 2010, o autor parecia sentir o cheiro do escândalo que corrói a credibilidade da instituição Petrobras. E propõe, no mesmo ensaio, a eleição de candidatos aferidos nos 3Cs: caráter, Compromisso e Competência. “Precisamos ser criteriosos na avaliação das pessoas que pretendemos apoiar”.
A análise de Macedo rastreia em 360 graus as variáveis do Estado brasileiro que agonizam como problemas crônicos. Ele escreve: “A fragilidade da nossa consciência cidadã ainda nos faz tolerar as mazelas que resultam das insuficiências da educação básica, dos problemas de mobilidade urbana, das ineficientes políticas de segurança e da má qualidade de outros serviços públicos essenciais.” Assim, não faltaria também a crítica, com segura propriedade, ao chamado custo Brasil que rouba a competitividade das empresas e, em especial, da indústria, e coloca o país em posição desvantajosa neste ranking global. Assim, sobre o aumento de impostos e outras de contribuição ele enfatiza que é “[…] injusto colocar nos ombros do empresariado a responsabilidade de tapas os buracos criados pelos desvios dos recursos públicos, do empreguismo, agravados pela incompetência de muitos ocupantes das funções que exercem, tornando o custo Brasil um dos mais altos do Planeta.”
Como se vê, Roberto Macedo estimula, com suas ideias e texto fluente, objetivo e sem vícios de estilo, uma leitura prazerosa ao mesmo tempo em que nos alinhamos com um empresário de criticismo argumentado, baseado em fatos, sem nenhum panfletarismo. Muitas vezes ele fala o que o Governo-Estado não quer ouvir, este tão acostumado à medieval bajulação. Macedo mostra que desenvolvimento se faz com educação, ações de cidadania e, mais que isso, com conhecimento aplicado, inovação, tecnologia, criticismo, colaboracionismo e participação.
O prazer de comentar seu livro reside, principalmente, na provocação para que mais pessoas possam ter acesso ao seu conteúdo. O livro de Macedo é um libelo à autonomia, à liberdade e ao republicanismo, tudo tão em falta no Brasil. Que este livro habite em cada uma das nossas bibliotecas dos cursos de graduação no Brasil para potencializar o pensamento crítico expressos na tese e na prática coerente do autor.
Roberto Macedo é herdeiro exemplar de uma arrojada linhagem de empreendedores e inovadores que nos remete ao patriarca Jose Macedo, sempre à frente do seu tempo.
* Luís-Sérgio Santos,
Jornalista.