Com o título “Desinformação e cantilena”, eis artigo da jornalista Fátima Sudário, que pode ser conferido no O POVO desta segunda-feira. Ela usa lição do Papa francisco para analisar o cenário dos debates entre candidatos a presidente da República. Confira:
E o que é a desinformação? Para Francisco é o que é dito pela metade, pela conveniência de quem diz, o que impede a formação de um juízo, por parte de quem recebe a informação, em função da falta dos elementos negados. Pois bem, fico a imaginar, então, o mundo de meias verdades que estamos construindo.
Vendo os debates dos presidenciáveis e passeando pelas redes sociais, impossível não ver o quão pecadores estamos – candidatos e partidários. Nos sentidos sacro e humano. Salvo raras exceções, estamos a nos estrebuchar, com deselegância e mesquinharia, para fazer valer o que nos convém. Somos eleitores das meias verdades. Caminhamos para eleger um (a) presidente da meia verdade, quando não da mentira, o vocábulo da vez. Não tem inocente nessa história, ainda que veja muita gente insistindo em ver mocinhos e vilões.
A questão é como nos acostumamos ao desrespeito, à desqualificação, à desmoralização e à ignorância. Não acho que os debates entre candidatos devam ser chá de academia ou que as redes sociais devam ser palco da diplomacia. A tensão é importante, as questões pessoais, também. O problema é a fartura, assim como a escassez do respeito e do debate no campo das ideias.
Enfim, pode-se dizer que esse cenário não é novidade. Então por que a cantilena? É que está difícil não desejar saber como seria se fosse diferente. E aí fico com o Milton Nascimento: “Me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir/Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor/ Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver/ E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”.
A propósito, o papa Francisco abriu o Sínodo Extraordinário sobre a Família, que se encerrou ontem, conclamando bispos a expor, com clareza e sem medo de desagradar, o que pensavam sobre temas tabus para a Igreja, tais como homossexualidade, contracepção, divórcio. No documento final, foi eliminada a expressão “boas-vindas aos homossexuais”. Uma derrota. A questão em pauta, sem medo, é uma vitória!
* Fátima Sudário
fatima@opovo.com.br
Jornalista do O POVO.