Com o título “Notas da Copa do Mundo”, eis artigo do jornalista Fábio campos no O POVO desta quinta-feira. Ele elenca alguns detalhes sobre o certame, que aquece o mercado fortalezense e até comemora um fato: o policiamento é ostensivo. Confira:
A Espanha, com o seu esquema que ficou manjado, se foi. Um desastre. E em que a derrocada da “fúria” afetará o cotidiano espanhol? Em absolutamente nada. La vida sigue. Pois é. Mas, no Brasil, a vida parece não seguir. Vivemos no País que informalmente decreta feriado em dia de jogo. A pátria que calça chuteiras.
– Não fosse a Copa do Mundo, o noticiário brasileiro estaria majoritariamente voltado para a política. Estamos em plena época de convenções partidárias, que devem ocorrer até o dia 30 de junho. Nas folgas entre os jogos da seleção brasileira, as articulações políticas fluem e se intensificam. Porém, diante da concorrência com o futebol, o interesse é baixíssimo.
– Assim será até o final deste mês, no momento em que as oitavas de finais já estarão sendo disputadas. A Copa ainda estará em pleno andamento quando os partidos e coligações já tiverem escolhidos seus candidatos e com permissão para fazer campanha em carros de som e comícios, além dos comitês já funcionando.
– Caso o Brasil vá até a final, em 12 de julho, não se falará em outra coisa que não seja futebol e Copa. E se o Brasil cair antes? Aí não sabemos exatamente como estará o humor do distinto público para tolerar o politiquês. E a velha e insistente pergunta: o desempenho da seleção nacional afeta ou não afeta a política?
– Percebe-se que boa parte da população anda destilando mau humor contra a política e os políticos em geral. É evidente que quem está no poder acaba mais afetado pelo sentimento negativo do eleitorado. Sendo assim, parece-me que um desempenho ruim no futebol pode, no máximo, ajudar a aumentar a má vontade que as pesquisas já detectam em relação aos atuais governantes.
– Fui ao jogo do Brasil contra o México em Fortaleza. Tudo pareceu funcionar muito bem. Meu lugar marcado estava disponível, a cerveja geladinha e com filas aceitáveis, a pipoca quentinha e os banheiros bem adequados às circunstâncias. O que me chamou a atenção foi a maneira como a Paulino Rocha foi preparada para o evento. Dos dois lados da avenida, uma população marcadamente mais pobre. Uma das mãos foi fechada aos carros, mesmo os credenciados. Assim, virou uma via de pedestres para uso exclusivo dos torcedores com ingressos que precisavam fazer uma boa caminhada até o estádio. Mas, havia um detalhe: a via de pedestres foi cercada com cavaletes de ferro. Portanto, tinha os do lado de dentro e os do lado de fora. A cara do Brasil.
– A cena na avenida Paulino Rocha nos sugere o quanto ainda o Brasil e o Ceará precisam caminhar. Somos capazes de construir grandes empreendimentos como um belo e moderno estádio de futebol, mas não somos competentes para dotar a cidade, por exemplo, de um sistema de esgoto, serviço básico que boa parte do público vizinho as Castelão não tem.
– Muitos sentem que Fortaleza vive dias diferentes durante a Copa do Mundo. Na verdade, a Capital vive um clima alegre comum às cidades com grande fluxo turístico. Muita gente nas ruas o tempo todo. Gente consumindo e deixando dinheiro no comércio. Policiamento ostensivo. Com isso, até aflora na população a perdida sensação de segurança. Gostaríamos que fosse sempre assim. Que venham, e sejam bem vindos, os 18 mil torcedores da Alemanha.