Eis artigo do jornalista Fábio campos no O POVO desta quinta-feira, com o título “Eunício age para tirar o PT do colo de Cid”. O articulista avalia o cenário eleitoral cearense e diz que a crise recente no Pros – cúpula pedindo a saída do ministro Francisco Teixeira da Integração Nacional, pode ter o dedo do senador peemedebista, que virou um “problemão” para os Ferreira Gomes. Confira:
Depois de construir a mais abrangente hegemonia política da História do Ceará desde o fim da ditadura militar, o grupo político liderado pelo ex-governador Cid Gomes se encontra numa situação que, no mínimo, é muito delicada. O grupo detém os comandos do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza. São os dois maiores orçamentos do Estado. O grupo ainda é importante aliado da presidente Dilma Rousseff, fonte de onde jorram os recursos para a maioria das grandes obras em andamento no Estado. Sua área de influência estende-se também sobre praticamente todos os municípios.
Pois é. Mas, por qual motivo a situação política é delicada? O fato é que uma série de fatores, que costumo chamar de variáveis políticas, começou a atuar contra os interesses do grupo, estabelecendo um clima de incertezas e retirando-o da zona de conforto que persistiu durante pelo menos sete anos, desde que Cid Gomes tomou posse no Governo.
O primeiro deles foi a decisão de Eduardo Campos (PSB) de candidatar-se a presidente. Em nome da declarada fidelidade à reeleição de Dilma Rousseff, misturado com a notória falta de apego à ideia de partido, o grupo teve que abandonar o PSB e se filiar a um ajuntamento que claramente se colocava como um reles balcão de interesses não confessáveis. Deu no que deu.
A segunda variável a interferir no processo político foi a decisão de Eunício Oliveira (PMDB) de colocar-se como candidato ao Governo do Ceará. Não era e nem nunca foi o objetivo do grupo apoiar um candidato à sucessão de Cid que não fosse feito em casa.
Como se sabe, Eunício seguiu em seus objetivos. Não era pra menos. Seria agora ou nunca. Percebe-se que o grupo do governador apostou até o fim que uma intervenção pessoal da presidente Dilma demoveria o senador de seu declarado sonho, mantendo incólume a aliança local com o PMDB. Aposta errada.
E a variável Eunício é um problemão para os irmãos Ferreira Gomes. Trata-se de um político com capacidade de articulação nacional, membro da cúpula do PMDB, já bem conhecido do distinto público, com desenvoltura financeira e inteligência de articulação, no que pese o gosto para plantar notícias falsas e lançar lorotas no mercado político.
Além das condições objetivas para atrair uma parte significativa da simpatia do eleitorado, o senador tem em suas mãos uma outra arma política de grande peso e calibre que pode fazer um vistoso rombo nos planos eleitorais do grupo do governador. A saber: por força de sua condição como líder do PMDB no Senado e de suas relações com a esperta cúpula do partido, a candidatura de Eunício pode simplesmente fazer com que Lula e, principalmente, a presidente Dilma fiquem bem longe da disputa do Ceará.
Nota-se que é esse o trabalho ao qual o senador vem se dedicando com afinco. Eunício parece ter entrado na briga pra valer. Além das primeiras críticas ao modo de governador cidista, o senador articula a fundo para impedir o PT de se abancar confortavelmente no palanque do governador.
O fato é que, nas atuais circunstâncias, o Palácio do Planalto precisa como nunca da parceria com Renan, Sarney et caterva. Essa necessidade prende o petismo ao velho PMDB jamais cansado de cargos e poder. E o senador aprendeu a jogar esse jogo muito bem. Até a crise no Pros parece ter o dedo do senador. O partido, nascido para pleitear cargos e verbas, já cria prosaicos desconfortos para o grupo cearense. Um grupo que parece ter se isolado demais da articulação política nacional.